31.12.06

De passagem

Agradeço aos deuses! Este ano eu não tive a péssima experiência de chegar no dia 31 de dezembro, perceber que ainda faltam 54 capítulos para terminar de ler um romance e ficar lendo-o compulsivamente até às 23h46 do mesmo dia, apenas parra anular qualquer pendência para o ano seguinte. Mas sempre fui ligado a rituais de passagem, e, por enquanto, o dessa virada se restringiu a jogar fora revistas, jornais e papéis inúteis e perdidos pelo meu quarto desde o ano de 2003. Não teve - ainda - a minha lista de "últimas" (por enquanto nada de última comida ingerida no ano, última música cantada no ano ou, ainda, último som emitido por mim no ano). Mas ressalvo: por enquanto.
P.S.: gravura feita sob encomenda por minha simpática e graciosa amiga Julia de Crudis - em um de seus momentos de carência e crise pré-vestibular - e que respresenta, com a exceção da mudança de "2007" por outro número, a frase historicamente mais dita nos dias trinta e um de dezembro de todos os anos (a qual me recuso a pronunciar devido à minha aversão por tarefas que exijam esforço repetitivo).

30.12.06

Clero regular

Há dois dias, não coloco os pés na rua. Trancado dentro de casa para (tentar) estudar - vestibular daqui uma semana. Vou do Huango-Ho ao Missouri, da Revolução Francesa à Chinesa, do Eça ao Magnoli; nos intervalos, bebo café, como um biscoito, leio uma revista e baixo música, muita música. Minha vida social tem se restringido a Orkut, a Msn e, com ressalvas, a telefone.
Resolvi não viajar neste Réveillon; espero não surtar. É um comportamento quase monástico, talvez insano, mas passa, tudo passa. (E espero que eu também passe.)

Havaianas verdes

No meu caminho pela Antônia de Queirós, quis que São Paulo fosse sempre daquele jeito de dezembro, janeiro, sei lá, mas, conforme foram passando os grupos dispersos de duas, três, quatro pessoas, e eu via aquele palacete aos fragmentos, colorido, bonito, e aquele estabelecimento que mais parecia uma pensão ou alguma clínica de repouso, me dei conta de que se fosse sempre daquela forma, não seria São Paulo. Poderia ser uma cidade qualquer, como a que eu andava em 1998 por muitas tardes, mas não São Paulo. Antes de virar a esquina, não sei por que me veio a obviedade de que gosto de fazer descrições, nem que sejam mentais, apenas, de locais, rostos, pessoas, cheiros. A Augusta tinha bares velhos e farmácias modernas, e estava parecendo um pouco São Paulo num domingo, quem sabe. Não era domingo. E eu caminhei sobre bueiros. Me veio cheiro de sexo periférico com sabão em pó de dentro do bar e a sensação de já ter passado pisado naquele asfalto. Noite, chegando em casa, descobri que García Marquez escreveu Cem anos de solidão ouvindo freneticamente A hard day's night. Pareci menos insano.

29.12.06

Cafeína

Aos Domingos, ao acordar, sento-me à mesa com uma xícara grande de café com leite. Desembrulho o jornal. Bachelet, Hussein, tucano, síndrome de down, Cicarelli, da Silva. Dedos sujos de tinta impressa. Não gosto da película sobre o leite.
(Setembro/2006)

24.12.06

Preciso fazer uma confissão: essas reportagens sobre compras natalinas me deixam mais eufórico. Eu sei que o Natal é uma grande mentira e que é uma data que, de certa forma, aumenta a exclusão social, mas mesmo assim eu tenho grande afeição ao Natal. Não o Natal em si, mas toda essa atmosfera natalina que cerca os dias precedentes ao feriado. Desde criança, sempre gostei daquela quantidade de luzes espalhadas pela cidade, dos congestionamentos maiores que o normal e dos indivíduos disputando um espaço nos corredores de shopping center.
Nos últimos dias, tenho tentado estudar fervorosamente para uma prova que terei em Janeiro e ao mesmo tempo também fazer algo para sentir esse "clima natalino" de que tanto gosto. Poderia ser andar por um shoopping todo enfeitado, comprar panetone no supermercado ou tirar foto com o papai Noel. Mas o máximo que consegui foi andar no meio da multidão da Paulista enfeitada num fim de tarde escuntando "City of blinding lights" (o que, ao seu modo, foi simpático) e comprar alguns presentes num shopping vazio às 2h da manhã. É assim que sinto o "tempo me correr por entre os dedos" e uma pequena frustração. Agora pode me chamar de porco capitalista extremado.

15.12.06

Tenho mania de me atrasar pras coisas e, ultimamente, de estalar o maxilar. Creio que a primeira característica me perseguirá até o fim dos meus dias. A segunda, provavelmente, é passageira. Já a tive quandro criança e agora ela voltou, mas logo passa. (Tem que passar logo! Ouvi que é totalmente anormal, no sentido "médico" do termo.) E, bem, isso tudo é cerca de 1/116 do que sou.

Tudo no mundo começou com um sim.
C.L.

13.12.06

Sim.