27.12.07

de quando a coxa treme e eu penso que é o celular: os músculos feito areia movediça e a cabeça que não funciona muito bem. isso quando lembro que a gente podia ter se encontrado em qualquer corredor da vida: na fila do café, na poltrona do cinema, na sala de banda larga, na festa diabólica, no ônibus para casa, na piscina suspeita. e os astros conspiram para que os indivíduos se encontrem no horário e no dia certos. deve ser por isso que me atraso tanto, tanto para que o dia chegue e seja dito que sou muito mais que se esperava, e então eu me sinta bem posto no mundo. no dia seguinte, o fim, ou quase o fim; e eu, antes tão seguro de mim, desmorono, corro atrás, fico obcecado, passo horas na mesma tecla. e não adianta. é sempre a mesma coisa. é nisso que me dá vontade de ir pro quarto, de ler um bocado de derrida. e eu nem fico no meu quarto, e eu nem leio derrida. eu só espero que chova. a noite toda. gotas grossas e barulhentas, a la éramos seis, até chegar a hora de beber café. com ou sem derrida.

25.12.07

largo da batata

1. os passos de quatro anos atrás para trás e o déjà vu. que fossem passos não tidos antes e a sensação de feel like home. aquela região do cérebro, bem no topo da cabeça, se movimentando; quase uma embrigaguês jazzística.

2. dois pares de olhos puxados. o da janela: do cachecol e do casaco verde de capuz. ao lado, do óculos sem aro, cabelo amassado e malha que pediu mãe. era um exemplar de le monde diplomatique contra uma passada de olhos pelos exercícios da matemática.

14.12.07

sun-origin


a casa na zona leste. a casa na zona sul. a casa na zona sudeste, isso sim, a casa e suas pernas finas e longas. eu admiro suas pernas na casa da zona sudeste enquanto tomo sopa japonesa. minhas mãos na cerâmica quente, minha garganta quente e a luz vermelha dos corredores por onde passo e olho pela porta de seu quarto na zona sudeste suas pernas finas e longas na sopa japonesa.

12.12.07

eu já falei pra ela: deleta do orkut, bloqueia no msn. mas acho que não tem jeito, de qualquer maneira a imagem dele volta. ela me falou que ele tem uma cara de criança boba e gosta de coca trigelada com pizza, só que se ela deletar toda criança boba ou coca e pizza da sua vida, não dará muito certo, então acho que deletar do orkut ou do msn também não seria uma grande idéia.

mas é que ele vai embora, vai estudar um tempo no chile, tão perto, tão longe, e ela teve a idéia de, do nada, aparecer no chile como quem não quer nada e dizer e aí, como vai a sua pessoa, tudo bem?, e ele iria tratá-la tão bem como nunca tratou ninguém, porque os dois estariam em terras estrangeiras e um estar ao lado do outro seria sentir-se em casa de novo, então um se aconchegaria no outro, um se afeiçoaria pelo outro e fim da história. mas ela achou que era loucura, da mesma forma que ela achava loucura quando passava em frente à faculdade dele todas as quartas e terças para vê-lo sair (mesmo nunca sabendo o horário da saída), e talvez buzinar e dizer quer uma carona para casa, não tem problema se você na leste e eu na oeste, não é tão longe assim, sabe, e, de qualquer forma, eu estaria indo pra lá mesmo!

loucura foi também quando se enfeitou e se perfumou para a festa de sextas-feiras passadas, e quando começou a tocar strokes (ela sabia que ele amava strokes e pediu, assim, do nada, para o dj tocar), ela pegou seu copo de bebida doce e canudos coloridos e foi para a pista dançar, cambaleava entre os corpos, onde estaria ele?, ela procurava por todas as cabeças o seu par que ela sabia que viria diretamente do tatuapé à festa, mas ele não fora na festa, e ela não parava sua busca por ele, à uma, às duas, três, quatro, cinco da manhã, quando a música era ruim e todos já tinham ido para suas camas na leste, oeste, norte, sul, seu cabelo fedia e seu salto apertava. ela, então, meio tonta, tirou os sapatos, caminhou três quadras ao carro, dirigiu pela lapa, não sabia onde estava, queria ir ao tatuapé, bater em todas as portas e falar olá, ele mora aqui?, tocou strokes na festa hoje e ele não estava, como assim?, esperei a noite toda.

mas ontem ela ligou e disse que agora é zona sul. agora é maxilar proeminente. agora é belle & sebastian. ele é o novo te quiero, bandido.

4.12.07

respirar

por que existe é o que pergunto. em dezembros de suores e calores de insetos eu pergunto por que existe. quase oito e o céu ainda cinza eu pergunto por que existe. dirijo pela Panamericana tentando ir para casa e pergunto por que existe.

perguntar é o que mais faço em tempos de vida provisória. maneira de viver conforme corre feito rio interno a obsessão, conforme percorro todos os caminhos que acho terem sido por você traçados. e tudo isto na medida em que você é a medida de todas as coisas, em que todos os caminhos levam a você e em que nada do que é você me é alheio.

eu volto e lembro de que viver é respirar. e depende.

30.11.07

go home

havia uma mulher no meio do caminho. comendo uma banana. eu olhei aquela mulher de meia idade, rosto vermelho, cabelo loiro quase tingido. era triste e não tinha esposo, apenas uma banana muito-muito madura, de casca quase preta e creme com fiapos derretendo na boca. (sabor acentuado.)

foi assim a mulher que vi. ela não notou minha presença e continuou comendo sua banana. bem madura, assim como a banana, a mulher.

eu conheci o filho dela também. que seja. enquanto ela comia em seu carro cinza, ele andava de bicicleta e ouvia música. era daqueles caras bonitos e fortes de capa de caderno que escutam sons em grandes fones de ouvido e deixam a cueca aparecer na bermuda.

a mãe não vê o filho. o filho não vê a mãe. e este reles observador, por sua vez, é aquele que tudo vê: desde a banana até a cueca.

agora todos vão para casa. tirar os sapatos, comer do pão, colocar o dedo no interruptor, dar a descarga. todos os dias.

e assim a vida vai: as pessoas - que me disseram serem caixas pretas - se vêem e não se vêem, comem suas bananas, ouvem suas músicas e vão-se embora.

e esse texto, que seria sobre a mulher e sua banana, virou um texto sobre ir para casa e não se ver mais nada. é aí que eu chego e falo: meudeus.

24.11.07

disseram ao som de come together

eu bebi duas cervejas e fiquei sentado, esperando você chegar. talvez pela luz fraca do lugar fosse difícil reconhecer sua forma física, mas, para mim, naquela situação, nada era impossível.

fiquei lá, bebendo as cervejas, vendo as pessoas, ouvindo a música – ora boa, ora ruim – esperando você chegar.

esperar é o que mais faço nestes tempos de obsessão.

16.11.07

cubitellu


é que surgiste e não há modo de enterrar-te ou de cobrir-te com água fria até o fim. não seria capaz disso eu, que contei todas as manchas de tuas costas, eu, que tentei mordiscar teus cílios e arrancá-los com os dentes, eu, que degustei tuas articulações, lavei teus pés, cortei tuas unhas, banhei teus cabelos.


não há modo de descartar-te como uma embalagem plástica, eu, que ainda sinto as costelas quentes mesmo longe de tua presença física neste todo frio. e enquanto atravesso a henrique schaumann, respiro a toxidez, olho para o relógio da rua, dezoito e quarenta e cinco e doze graus, hora de te ver, eu penso que é hora de correr, ainda há luz e podem enxergar meu sorriso de te ver e céu cinza escuro, mas é atravessando a rua, de farol verde, tentando ir à sua casa, eu correndo na rua, que me lembro de que não estás mais aqui, estás aqui, aqui e não em mim, o fio foi cortado e fim. então eu, que sempre quis viver olhando pro mesmo céu, desisto de tudo. paro no meio da faixa, penso em como devo proceder, e os carros passam.

13.11.07

cadê teresa? ou à procura ou lo siento

y disse: aponta pra fé e rema. x disse: isso é uma música. y disse: eu sei. x disse: a escuto todas as manhãs indo pra faculdade. y disse: nada perguntei. x disse: vem pro pau. y foi e, depois de quarenta minutos do pau, descabelou-se, suou e foi até o solo cantando come into my life. adeus, y, arrivederci.

x bebeu mais vódicas e suquinhos prontos:

x: delícia. z: é amigo de maribel? ?: si, si, como no... ?: perdeu, playboy, la garantía soy yo. ?: entonces come into my life.

depois veio cauê e o espírito de deus voltou a se mover sobre... foi aí que por que não eu?.

6.11.07

casamento de espanhol

de repente começou a chover. coloquei os livros sobre a cabeça e desci correndo os degraus – não, não tem problema, eram de pedra áspera, não escorregava. então eu voltava para casa e via toda aquela aguaceira lá fora na forma de gotas. inesperadamente, a água cessou de cair; abri as janelas, e o chão, a grama, os carros e as pessoas estavam todas cintilando. pouco mais a frente, tudo seco – a chuva não fora até lá. deu até vontade de tomar guaraná light. fez cosquinha na garganta. lembrei da vó, mas lá era garrafa de vrdro.

31.10.07

esferográfica quase no fim

tentei lembrar e desenhar o rosto da garota durante a aula no mesmo correr do tempo em que a voz da professora era Darton, conformismo, Burke, livro de orações e bem mais do que isso – e minhas lembranças se limitam a essas palavras soltas. a BIC preta deslizava pela sulfite. saíram as bochechas, os fios meio soltos, o nariz redondinho... mas não era o rosto dela, não era nem um protótipo do rosto dela; era um novo rosto.

agradeço a Deus agora por não ter me apaixonado pela nova face, pois são tantas pelas quais quais eu me enamoro, são tantos os quadros que vejo por esta vida e que quero ter para sempre por perto...

nesses últimos tempos, já me anestesiei com o rosto desconfiado, com o rosto dos olhos de uva itália, com o rosto que se envergonhou e olhou para baixo na fila, junto com Jeanie é um gênio (e desse dia, assim como da aula no da BIC preta, só me vêm as palavras soltas, aqui na forma do tênis Nike, do automóvel Cleo, de cabelo desgrenhado). no papel, chega a mulher de nariz grande que se transforma, o garoto de cabelos bagunçados de costas, a jovem esguia de vestido vaporoso...

ao meu lado, o homem de bigode-primeira-metade-do-vinte fala, com sotaque do oeste pra lá, e fica vermelho a cada sílaba que pronuncia. eu ouço esse sotaque, tento não absorver as palavras. a professora presta atemção nele e eu volto à minha BIC deslizando ao lado dos rostos que criei – talvez não seja hora, ainda, de querer parar com essas pequenas paixões anônimas.

23.10.07

grapefruit (ou a festa da uva)a gente atravessou multidões até se encontrar de vez. (e eu, que nem te conheço, gostei de tuas roupas de sono.)

preciso aprender a parar de fingir que estou ocupado e olhar de vez para teus olhos de uva itália.

13.10.07

austral

quando ele voltou
e me disse
i like to watch kangaroos
ou algo assim
eu caí
no sentido inglês
da palavra

11.10.07

se fica tanto tempo sem ler jornal, sem assistir à tv, sem nada que a ficcção custa a vir.
é meio assim que acontece

28.9.07

hakuna matata

abro a porta. a lâmpada fluorescente pisca e pisca.

a porta da cozinha nunca fecha, e uma barata corre para dentro dela. mas nada vejo.

ouço uma barulho de crocância sob meus pés verdes. piso num exoesqueleto de quinita. que me desculpe a senhora lá, mas também gostaria de sentir nos dentes a crocância e engolir o creminho.

27.9.07

dias de jogos

havia decidido: era o dia dos prazeres orais; dia de molhar, morder, sentir o sabor e engolir. mas não foi como gostaria, porque, ao menos pelo que ela me disse, foi dia de querer tudo pelo contrário, de degustar para fora, de sentar no meio-fio – a lua meio apagada, os carros com suas luzes e as palavras e as palavras e as palavras. com ele.

mais cedo, ela tinha caminhado pelos belos jardins de inverno. belos, belos e belos. negou, balançou a cabeça, mordeu o lábio, parecia uma louca: não pode ser, não, não, não, não.

era a primeira vez que negava. eu nego, tu negas, ele nega, nós negamos, vós negais, eles negam. mas gostava disso – era ele.

26.9.07

eu queria escrever no cérebro
acelerar
soltar pela voz

11.9.07

queijo cottage

acordei meio de mau jeito, tomei café, saí. assisti a uma aula sobre rousseau, a outra aula sobre o imaginário. almocei couve e lagarto. tentei chupar uma laranja – a arte de chupar laranja –; não deu. corri, aula de inglês; péssima redação – composition – eu fiz. depois da aula, fui procurar aquilo, tentar reencontrar aquilo; não foi dessa vez. em casa, acabei cochilando e assisti a dois espisódios do seriado. à noite, comi qualquer coisa frita e corri para, quem sabe, encontrar aquilo que tanto quero reencontrar; não deu, de novo; perdi horas, me frustrei. fui à drogaria comprar remédio – tem o cartão da loja? fica com desconto –, à locadora devolver o dvd – o que o senhor deseja? –, ao pão de açúcar comprar pão, suco, iogurte, cottage, toddy, barra de cereal, requeijão – é cliente mais? aproveitei para flertar no pão de açúcar, ver o carrinho dos outros, imaginar os outros e as coisas dos outros em uso, o cara engravatado com seus frascos de amaciante (lavando roupa?), a senhora de cabelos tingidos e peitos avantajados com seus legumes (sopa para emagrecimento?) e o rapaz loiro de roupas modernas e suas cevejas e sucos del valle light (malhar e andar de cueca pela casa?). oh, god, dormir é preciso nesses dias de frustração.

4.9.07

tivesse eu uma pele para contar sardas, para aproximar os olhos dos aracnídeos cutâneos, para colocar na água quente e despelar suavemente, cortar, juntar, ferver; distração para os dias em que nada funciona: a lâmpada do quarto, o chuveiro no banheiro, meu radinho de pilha, minha voz, minha memória, meu pescoço, minhas vísceras. então, à noite, sem som das ondas do rádio, levo meus olhos às páginas de um livro amarelado enquanto aguardo, com a ânsia lá dentro, o momento matemático da contagem, que durará até – espero – o fechar dos olhos.

29.8.07

é de manhã bem cedo
eu não quero sair de casa
está frio
quero café + anamariabraga
e jornalfolha
tem aula, tá rolando

28.8.07

exatamente três horas do que horas
iria mal na prova amanhã
levaria multa no semáforo
gostaria de continuar...
to go on
culpa das suas
tentei
mas acho que agora é o fim

25.8.07

clima ameno

gosto à tarde, das quatro até ficar escuro ou esfriar. é quando me afasto, pego meus papéis, sento sob as árvores. elas soltam folhas (das secas) que dançam até as letras e os cabelos.

o tempo (dos físicos) caminha enquanto tento decifrar todos os códigos em minhas mãos, engolir a infusão do copo (de plástico) e sentir a fraca e esporádica aragem que chega fazendo barulho (dos leves).

ouço folhas sendo estraçalhadas por calçados.

olho para um lado – meu deus! –, disfarço, olho para o outro e, pronto, vou-me embora.

24.8.07

no fim, ontem foi dia de ficar na faculdade até o mais tardar.

uma cerveja, uma banana, meus amigos e, no bolso, um texto xerocado — a esperança de conseguir lê-lo e resumi-lo para hoje.

hoje, falto na aula.

23.8.07

não tempo do padeiro

daqui dois meses, feist, björk, arctic monkeys, hot chip e muito mais! confira! aproveite!

daqui algumas horas, em ordem decrescente, quem sabe, show da orquestra, eu lecionando e filé de peixe ao molho de mostarda.

daqui um dia, dia de tudo. medo de que seja dia de nada, ou seja, dia de deitar no quarto de perfume.

temporalidades.

18.8.07

g.t.
I. les temps modernes. você na ponta de meus dedos: neo-vício dos tempos modernos. você escapando de meus dedos, aspirada de dedos adentrando minhas duas narinas – a melhor droga inventada até esta última sílaba. não alcohol, não bala, não canabis, não pó, mas você-narcótico, uma essência de fórmula secreta e nenhuma tecnologia válida. é aquela essência dos autores das noites solitárias de sábado, a que fica na curva entre o ombro e pescoço, a que mistura pele, colônia, shampoo e sabonete, a que só você e as pontas de meus dedos têm.

14.8.07

jujubas multicolores

é um pensamento que me conforta: é eu que invento. esqueço tudo de propp a greimas, lembro só de seus defeitos físicos – poucos – mas enough suficientes para que, ora, ora, não sejas esquecido, para que fiques, sabe, grudado feito música pop – digo pop-pop, nada de outros pops. mas tenho sérias desconfiaças de que talvez você seja uma música erudita com roupagem pop, porque você não me lembra foto de capa de cd + programa domingo legal + óculos modernosos + trl; eu-sei-lá, eu acho que você não lembra nada, só lembra o que eu invento, porque o que eu invento é o que eu quero ter + ser, no infinitivo mesmo; o que invento é o que se vira aqui dentro da barriga, dentro do quarto escuro, enquanto penso/penso/penso, ouço feist e fico bebendo uma garrafa inteira de um litro e meio d'água.

o melhor é se enfiar numa dessas garrafas plásticas cheias e sair rolando por aí; talvez rua 13 de maio. e então jujubas, muffins, chicletes, marshmallow, pirulito, biscoito e assim por diante. just like joão & maria & a fonte de leite condensado.

24.7.07

não entendi bem as primeiras vezes em que você se postou ao meu lado, sem balançar direito o corpo como todo mundo. não que eu achasse ruim você ser diferente de todo mundo, era bom, era muito bom, mas você lá, de pé, ao meu lado, sem se portar como todos sob efeito daquela música e de outros artifícios (tudo em diferentes graus), se destacava. pensei em falar com a sua pessoa, falar oi, tudo bem, gostei porque você se veste de maneira quase discreta e tem um rosto simpático; e, nos momentos em que eu tinha esse pensamento, te olhava, mas você tinha os olhos para cima, para o lado, para o outro lado, nunca em minha direção, eu não entendia nada. mas, mesmo assim, você, ao meu lado, balançado às vezes o corpo, não como os outros, mas dando umas ba-lan-ça-di-nhas, me deixava sem conseguir olhar por mais de cinco segundos para outro lado. eu saía desse microcosmo, ia comprar a minha bebida, via mil pessoas diferentes de você e voltava àquele canto que não era canto, era um buraco, ou quase isso. nós a três metros de distância que inevitavelmente diminuíam a alguns poucos centímetros (talvez dez) por iniciativa sua. quando a distância chegou a no máximo poucos nanômetros, a noite já se findava. melhor medir em angstron? e foi aí que tudo, depois de eu fechar os olhos, tudo se passou como sob efeito daquela velha tecla ff de videocassete: você sentir gosto de vodca, eu de melancia, eu sentir meio sua pele roçar no rosto, o cheiro de sabão em pó de sua roupa que eu não conseguia identificar se era vermelha ou cor de laranja, o seu perfume que era gostoso e de fim de noite e o shampoo que você usou no banho antes de ir pra lá no meio de todo aqueles corpos em ebulição. você olhou o relógio e disse que precisava ir embora, pegar ônibus na paulista, voltar. eu te deixo em casa, onde você mora, zona oeste, vila leopoldina, pompéia, pinheiros, te deixo. mas a gente acabou não indo pra seja lá onde você mora, a gente achou melhor entrar no carro e seguir as nuvens, porque a manhã de sábado era branca, muito branca, de céu branco, quase violeta-cabelo-de-velha, cheio de nuvens meio mutiladas, mutiladas-guerra-do-vietnã. e a gente ouviu no rádio do carro interpol, billie holliday, dylan, coldplay, radiohead, e você começou a chorar de repente, você disse que não podia escutar knockin' on heaven's door que chorava, e chorava muito; eu disse que essa música já tinha tocado tanto que nem me tocava tanto, e você não deu bola, continuou chorando e falando que a música lembrava seu pai que morreu ano passado, de quê, de câncer, de câncer e brigavam demais. eu quis te deixar feliz e falei que ia te levar pro campo, pro singelo campo, pra onde as vaquinhas têm sininhos e onde há bichinhos bonitinhos passeando. a gente passou a cento-e-vinte por hora na ponte sobre o pinheiros; você, então, me perguntou se eu te buscaria se você se jogasse no rio e fosse flutuando em todo ele até interlagos, eu não lembro o que respondi, mas você deve ter gostado, porque o sol ficou um pouco mais dourado e deixou seus olhos meio brilhantes e mostrou sua pele branca-corada junto com o sorriso que você abriu; eu tentava contar seus dentes, depois seus cílios, seus cílios que ficaram mais evidentes pelas água toda que escorreu, feito mina, um, dois, três, perdi a conta, cento-e-trinta, cento-e-quarenta, cento-e-sessenta-e-um, por hora, o céu tava branco de novo, nós rimos e tudo ficou mais branco, agora tudo mesmo, tudo de uma vez.

20.7.07

meu di



um frio desgraçado, mas eu descalço, de bermuda vermelha e camiseta branca no sofá da sala. meu avô do lado.

ele não tem hora para aparecer em casa, vem como quem chega do nada. mas eu sempre soube que ele vem da rua josé, paralela à minha.

pergunto se quer café, ele grita que não quer nada. ele sempre grita; seu pai era muito bruto, justifica.

passo geléia numa fatia de pão torrado que sobrou do meu lanche; divido meu café em dois: o meu com leite, o dele puro, adoçado. ele gosta de tudo.

a televisão da sala, não sei por que, ligada no datena. meus olhos alternam a tv, a folha e meu avô. minhas mãos: uma com a caneca do café com leite, a outra no lóbulo da orelha dele, fazendo carinho, uma carícia meio bruta, uma carícia meio avô-e-neto.

com muito sotaque, ele fala que quer ir a poços de calda fazer turismo, fala de sua fisioterapia, fala que vai ao japão, pela última vez na vida, este ano. pergunto por quê. ele responde "porque é a última vez". ainda fala de kanji, de como se lê o japonês e da cidade nipônica construída por seu pai.

hoje, no sofá, de bermuda e camiseta branca, com a caneca de café na mão, olhando meu avô, a tv e a folha, senti vontade de ser mais japonês, sabe-se lá o que isso quer dizer. e antes que seja tarde.

18.7.07

washington luís e a morte do leiteiro

quando abri a porta, o céu estava branco e duas, três, sete, sei-lá gotas caíram no pescoço e escorreram, na cabeça e escorreram, escorreram no meio de cabelos grossos e pretos feito lágrima, feito lava, feito formiguinha bossa-nova. eu olhei à minha volta, um ar de noite e de água, parecia a serra do mar. o prédio, lá no alto, tava molhado, todo molhado, igual o chão onde eu pisava; o prédio tinha varizes e a água o deixava bem feio. já o meu chão ficava mais bonito molhado, lustroso, espelhado, meus pés em meias e chinelos pisavam em um chão de água, eu andava sobre o mar. não dormir é uma opção, um fardo, uma obrigação, não sei; é muito cômodo, você faz o que quer, não te olham, não te escutam; mas você fica só, só-sozinho, andando em chão de água feito jesus cristo e olhando os prédios. quando esperei amanhecer mais, amanhecer só mais um pouquinho, eu vi na televisão, tudo rápido, aconteceu há poucos minutos e fizeram aquela edição; um acidente. edit, edit, edit. um dia farei isso, meu deus? não sei. é cedo para saber. cedo, cedo de céu branco. amanheceu mais e eu bebi meu café em copo americano, feito café de boteco açucarado, e no jornal vi a fotografia daqueles tênis nike, sob a lona, deitados no asfalto. era triste. era um tênis que poderia ter sido e não foi.

16.7.07

A um outro Sigmundo, com afeto

Está frio, meus olhos fechando, meu estômago dói. Não deveria ter ficado acordado escrevendo, escrevendo. Se passam das quatro e todo o café só me faz até agora receber uma porrada constante no estômago.

Você perguntaria por que diabos não vou dormir e continuo a escrever. Primeiro porque não é mais nenhuma merda de texto sobre linguagem, é mais um texto sobre sonhos. E, você sabe, quanto mais o tempo corre, mais o sonho vai embora junto, meio acoplado com ele, até que no dia seguinte você nem lembra de nada. Ele volta de vez em quando, você pergunta: "já passei pro isso antes?", e passou, passou mas deitado na cama de olhos fechados. Você pode ter sido herói de cueca sob lençóis, você pode ter sido vítima de meias e camiseta, rolando na cama e fugindo dos espectros. Só que você quase não lembra.

Assim que acordei, com aquelas borboletas – ou qualquer outra coisa – fazendo cócegas dentro de mim – justo no lugar onde recebo a porrada constante do café – já tinha esquecido boa parte de tudo aquilo que fiz enquanto deitado. Acho que estava de calça moletom. É, fiz tudo aquilo de moletom e camiseta branca. Mas quando acordei já estava tudo meio sem forma, tudo meio borrado, as tintas molhadas e misturadas; só que eu podia ver algumas nuances, meio que um impressionismo mal feito.

Tudo que estou estudando esse ano, esse negócio de deslocamento, condensação, sobredeterminação do Freud me veio pra cabeça assim que abri os olhos de manhã. Essa coisa louca de sonho, que, como dizem, Freud explica. Só que acho que nada explica você ficar pedindo o meu celular. Até veio o frio na barriga. Foi bem real, mas não sei se senti, não sei se meus órgãos realmente mudaram de lugar, mas foi muito real, e eu fiquei com frio na barriga porque eu não sabia se te dava o celular ou o fixo.

Lembrei, assim como Freud explica, você queria me explicar alguma coisa que era bem melhor de ser explicada por telefone, uma coisa de voz, de diálogo veloz, nada de comunicação via tinta, papel, teclas, pingos nos is.

E foi estranho, lembro do seu amigo que tenta escrever de forma bizarra e depois me vi com a Paula sentado na calçada da Paulista. Ela estava com uma daquelas roupas de mulher que parece pijama – ou era realmente um pijama, de camiseta larga, meio camisola, e uma calça de pano leve, tipo aquelas que minha irmã usa de vez em quando para dormir. Acho que era pijama mesmo, porque ela pediu na padaria um café com leite e um pão na chapa. A Paula saiu da padaria – padaria pequena, espaçosa, retangular – com um copo descartável tampado na mão, o pão na chapa na outra e sentou-se na calçada. Na guia da calçada. Não lembro agora bem se eu estava com ela nessa hora do café com pão ou se eu era como uma câmera, que filmava tudo de longe. Sei que aquele pão parecia gostoso, crocante, meio úmido de manteiga, soltando milhares de migalhas na roupa e no asfalto. E olha que eu nem gosto de pão com manteiga.

A Paulista dessa padaria era uma Paulista estranha. Era meio que uma Paulista de Registro, meio que um bairro cinzento e de pessoas em forma de, não sei, nuvem. Não lembro das pessoas em volta, mas era a Avenida Paulista.

Tomando banho nesta manhã, correndo, eu imaginava se tinha padaria em plena Avenida Paulista. E agora, enquanto te escrevo, imagino como a Paula, sentada naquela guia da calçada não foi atropelada. Talvez até tenha sido, eu é que acordei antes.

Espero que não.

Sonhar é bom, mas dá tristeza depois. Dá frustração. Um meio aquilo que poderia ter sido e não foi. Mas pode ser, né, pode vir a ser, sempre tem uma esperança. Agora me deu vontade de cantar.

Vou dormir. Boa noite.

11.7.07

arrivederci ou banda derci gonçalves nas paredes

era estranho. eu bebendo suco enlatado de maçã, à mesa de um bar, numa daquelas salpicadas pela calçada. mas a questão é esta: eu bebia suco de maçã – suco de maçã – e a garota chegou. melhor chamar de meninota, ou garotinha, sei lá, porque ela fingiu, assim, com os dedos das mãos – se é que aquelas coisas menores que baby carrots podem ser assim denominadas – , que tinha dez anos. se ela fosse maneta, ela diria a verdade; talvez deus a castigue e a faça parar de mentir, deixando-a assim, sem uma mão. não, deus me livre. ou a livre, no caso. ela vendia balas; a mãe era a patroa.

o homem, lá mais pra cima, mais pra direita, meio perto do boteco da esquina da luís coelho, vestido desconfortalmente, uma barriga enorme e um cão de classe média do lado. ele tá me seguindo; eu tava numa festa na vila olímpia e vim andando até aqui, e o cachorro não pára de me seguir... ele faz tudo o que eu mando. tá. mais acima, virando a esquina, negros grandes do tipo a x a, meio bem vestidos, meio quase estrangeiros, regidos por uma mulher a la halle berry cantando hinos em língua irreconhecível; subiram, viraram, passaram ao lado da estação do metrô e atravessaram a avenida.

horas e horas se passaram e eu estava no prédio de idosos judeus, quadras e quadras abaixo, dependendo do ponto de vista, deitado no escuro. e eu falava com ele e com ela, e eu não via ele nem ela, mas foi assim.

7.7.07

os dias tic-tac

liguei para ele era quase meia-noite; esperei três toques, como recomendam nossos pais, de acordo com a etiqueta burguesa, e mais um, para fazer jus ao tal do jeitinho brasileiro. ele atendeu, sem voz de sono nem nada, e ainda riu com um "você sempre ligando em horários inoportunos". a gente conversou; ele contou que vai a porto alegre se os aeroportos permitirem. combinamos de nos ver depois do feriado e ele confessou que estava quase dormindo quando liguei.

sentei-me à mesa da sala. um silêncio absoluto, quase só meu, quase imoral, quase constrangedor, dos que sinto tanta falta nos dias de tanto trabalho. de forma paradoxal, liguei o som; botei o cd novo, o ao vivo, o recém-comprado no neto discos, promoção, quinze reais. fiz um chá verde, sem ritual nem nada, de saquinho, dois minutos no microondas e uma caneca preta, esverdeda por dentro, do pão de açúcar. li, então, algo sobre filosofia, fiz anotações, ouvi o cd, desliguei o cd, tomei o chá, ouvi o tic-tac-tic-tac do relógio da sala. tic. tac.

tic-tac-tic-tac são os dias, muito mais do que chá, filosofia, cd, telefone. tudo é cápsula, paraíso artificial, morfina que tenta dissipar tic-tac-tic-tac, dias meio ocos e cinzentos e frios e duros e pesados e que lembram muros de concreto com blocos e cimento à mostra, sem acabamento, com cheiro de construção, sem gosto de tic-tac.

3.7.07

aziz ab’saber

olhando agora, por fora, por cima, percebo como fui idiota naquele dia quando visitei outros territórios. no mesmo dia eu já tive a idéia de escrever um texto do gênero “como fui idiota”, mas precisei de mais algum tempo para ter a certeza.

deixando um pouco de lado excessos que aumentam a carga emocional, não, não fui uma besta quadrada extremada e sim, eu repetiria o que fiz, mas todo aquele deslumbramento ao me perder naquele prédio esquemático – daqueles esquemas cheios de quadros, flechas, ilustrações –, o prédio mais bonito de todos, me deixou assim, bobo. eu ficava vendo aqueles garotos que subiam a rampa, ou os que esperavam, sozinhos, a aula começar, ou os quadros verdes vazios, sem sinal de giz, ou o café fumegando para agüentar as aulas noturnas, ou as escadas vermelhas modernas, ou o professor doutor fumando antes de entrar na sala de aula, ou tudo aquilo que eu não via mas poderia ver.

não que eu não esteja feliz em meu território; mas é que, de algum modo, eu acho que as palavras de lacan funcionam – você meio que busca eternamente algo inatingível, é um desejo coberto por necessidades.

só que, se você pensar bem, de qualquer modo é legal ser idiota: você se deslumbra com pouco. isso é bom. e hilário. hilário franco junior.

1.7.07

mart'nália

há drogas lícitas, progagadas pela Rev. Industrial, que às vezes te fazem inventar coreografias no quarto para "história de uma gata" ou gritar alguma música da Calcanhotto. você está consciente e não corre o risco de tentar imitar um go go boy, derrubar as pessoas ou, sei lá, gorfar.

sei lá o que tô falando. só sei que às vezes é legal sair pra conversar e ficar ouvindo música em casa. sei lá, sei lá.

26.6.07

Primeiro foi ele esperando o ônibus sem trajes de gala. Um estranho no ninho. Depois foi a vez dos dois evidenciarem a contradição no semáforo. E batiam, um em cada janela. Marcas de dedos no vidro. E saltitavam, e batiam, e pediam, e imploravam. Quase me convenceram. Uma espécie de Populismo às avessas. Ele era menor, segurava bolos com figuras da Turma de Mônica. Será que ele sabia quem era Mônica? Cascão? Bob Esponja? Naquela idade eu tinha cabelos parecidos, o quádruplo de peso e Mônica era minha companhia diária. Noturna. Na outra janela, a outra vendia chicletes. Será igual a tantas mulheres de cabelos manchados. Essa reflexão me veio depois. Pediu-me água. Tudo aquilo era natural. Dei-lhe água. Verde. Tchau.

[agosto (?) / 2006]

25.6.07

shrek

em vez de obrigações, comi. comi as obrigações, meio que junto de sorvete com calda de maçã verde e bolinhas crocantes. isso no Butantã. e em Pinheiros.

é, não fiz os textos sobre historiadores nem li o livro sobre tipografia; mas comi bureka nesse domingo de tempo estranho. esfriou. e parecia que ia chover.

sábado engoli conversas com pizzas em Perdizes. e o fim de semana foi assim, de obrigações comidas.

24.6.07

ne me quitte pas

"Ontem surgiu o vereador João Cláudio Moreno, do PC do B de Parnaíba (PI), que, propagandeando as belezas turísticas piauienses, disse a seguinte pérola: 'O Delta do Parnaíba é como uma menina de 15 anos. Linda, virgem e pronta para ser explorada. Aliás, 15 não, 13 anos.'"

[em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?aviso=yes&codigo=445563]

22.6.07

hoje peguei o carro e saí. não é a primeira vez que faço isto, sair dirigindo por aí sozinho, sem rumo certo, pela noite. tem época em que faço mais, tem época em que faço menos.

o trajeto não foi tão longo assim, nem foi longe nem demorado. passei pela Vital, Rebouças, virei, Paulista, Augusta, desci, Cardeal, Alvarenga.

olhava as pessoas, abria, fechava o vidro, ouvia música, trocava de estação, de cd, de pensamento.

nem lembro bem sobre que pensava.

não era sobre o dia tenso, definitivamente; nem sobre a prova oral, a escrita ou o fechamento do jornal. e nem sobre meus amigos que passaram pelos computadores e me deram biscoito e ceral em barra quase de madrugada.

lembro-me apenas de algumas reflexões sobre cerveja e café, sobre um ou outro amigo ou sobre aqueles fios de cabelo que fitei perto da Peixoto. mas acho que só.

18.6.07

nossos carros - (só eles) - juntinhos de bundas empinadas sozinhos parados olhando para o chão sob a copa das árvores frondosas. quem me dera estivessem eles de faróis acesos.

quiçá essa foi a cena mais bonita desse ano. mas um dia, deus queira, teremos um carro só ao invés de uma escova única de dentes. ou, melhor, venderemos os autos e alugaremos um apartamento. muitas festinhas no apê.

16.6.07

post e poste; scrapbook

não sei por quê. não gosto dos últimos postes. posts.

15.6.07

cão truta, cão-truta, cão sem dono

debate depois da pré-estréia de Cão sem dono: o espírito lulesco de Marçal Aquino, o ar arrogante de Beto Brant e a falta de sal daqueles bons atores de cara limpa.

caminho para casa. no portão, um cachorro revira um saco de lixo cheio de ossos. com a minha aproximação, ele se assusta, fica tenso, prepara o corpo para escapar. a fome diz mais alto, ele percebe que sou amigo e continua a comer os ossos.

esse cão não tem dono. talvez a palavra "dono" possa trazer uma relação de posse, de autoridade, de mandonismo. mas também pode revelar carinho, conforto, lar, tudo que me veio quando caminhei até a janela da sala de casa e vi o meu cachorrinho poodle deitado folgadamente em um edredom no sofá. um cão com dono.

aquele cão sem dono, na rua, cabisbaixo, melancólico, malhado e faminto me tocou por dentro. bem lá dentro. levo água da cozinha a ele. ele foge de mim metros adiante, com um osso preso nos dentes. jogo uma almôndega. o cão me olha, fica um segundos me encarando. encara a almôndega, engole a almôndega e volta a me encarar. dou uma piscadela, sorrio, mostro o dedo polegar. "esse é truta", ele diria. ou seria mera pretensão?

12.6.07

estive em Registro

em Registro as ruas têm nomes japoneses e as pedras do chão, arvorezinhas. em Registro a avenida principal tem nome de mulher, os semáforos não são necessários e há uma feira que começa na hora do almoço. vendia cenoura, pepino, salsinha, sushi e empadinhas - mas preferi pudim de tapioca. um real, um real.

em dia de jogos universitários, as casas cobram cinco reais para se tomar banho. e em dia de festa, eu bebi tudo que não devia. passei mal. quase lá.

mas foi bom: caminhei sábado à noite pela neblina. em Registro há neblina na avenida principal. e eu estava de Havaianas.

Registro é a cidade do chá e da banana. mais do chá que da banana. porém não se vende iced tea no supermercado. só vodka.

6.6.07

santo antônio e fita dupla-face

saí com amigo pela universidade colando cartazes. história e geografia, química, arquitetura, concreto e matos, muitos matos.

no prédio da letras eu já estava sozinho. uma calmaria e um cheiro gostoso de junho - especiarias. arroz doce ou vinho quente? dúvida cruel, sem escolha e sem solução. ou doce escolha não-minha.

muito frio. foi aí que lembrei: mês de festa junina.

3.6.07

ultima/e jornalismo

os últimos dias foram dias de entrevistas(1), de poucas leituras(2) e de nenhum sentido(3).

(1) entrevistamos Cerântula no Centro e Percival na zona norte. jornalistas investigativos que tomaram várias de minhas horas; foram horas agradáveis.

(2) li essa semana pouco o jornal ou o monte de livros que comprei no sebo, onde procurava alguns sobre teorias esquerdistas. ultimamente, tenho tido vontade de ler sobre socialismos. pretendo conciliar socialismos com algumas teorias díspares a respeito do que falamos/escrevemos/comunicamos - o que aprendo na universidade.

(3) ......(...)............!.................(...).......?..............?..............???

à parte disso, esse fim de semana foi fim de semana de pizza; ontem à noite nos Jardins.

já hoje é um dia típico de leituras. (e talvez de cinema.)

29.5.07

do avesso: she e ela

nunca imaginara que na mesa do café, na leitura do jornal, no indiferenciado daqueles dezeito-anos metidos a artista que a rodeavam diariamente fosse encontrar. mas encontrou.
pelo menos assim ela acredita.

o sono era como fios de marionete que puxavam suas pálpebras e abriam suas mandíbulas para o bocejo enquanto lia. Renan Calheiros, gothic lolita, Palma de Ouro, arquibancada, clássico fraco, Casa Civil.

a fumaça de cigarro da mesa à frente rastejava adentrando suas narinas alérgicas, fazendo cócegas, provocando, com todo aquele joguinho sedutor. na mesa frente, de costas a ela, fumavam.

posso pegar essa cadeira? sim. agora era outro: posso pegar? sim.

e ficou ela numa mesa para quatro apenas com a cadeira para a bolsa ao lado.
a mesa para quatro da frente, a dos dois fumantes, agora estava com 7 - fumantes e não -, um lap-top, coca-cola, cinzeiro e she. e she. eram oito com she, então. oito forasteiros, quem sabe; mais velhos ou pós-graduantos, talvez. não faziam parte daquele indiferenciado de dezoito-anos.

o sono parecia ir embora quando ela olhava para os lados e fugia das letras miúdas. duas vezes percebeu que os olhos de she também fugiam e chegavam nos seus.

ela e she se olhavam.

e foi assim. três, quatro, seis vezes.

era a primeira vez que aqueles olhos a ela tocavam. não aqueles exatos olhos de she, mas aqueles olhos como os de she que faziam ela sentir-se feito parafina sólida. pensou em todas as possibilidades possíveis: cabelo amassado, nó do cachecol torto, blusa do avesso. mas não achou nada que com palavras pudesse ser expresso.

ela e she se olhavam.

ela paralisaria o mundo - menos she. assim, as duas, sozinhas, coloridas no preto-e-branco teriam um pretexto para trocarem códigos.

ela levantou-se. vestiu o casaco, arrumou o cachecol, ajeitou a calça.

she talvez fosse a mulher de sua vida. assim pensou.

mas ela foi embora. foi embora e estava frio. e imaginou como seria.

ela e she se olharam. e talvez tudo fosse do avesso. e fim.

19.5.07

você, as suas litras, o mokaccino com filósofos...

os dias de chuva não são difíceis de se guardar. deve ser porque não é todo dia dia de chuva e porque é quase todo dia dia de sol, inclusive dias de chuva.

não sei se ainda lembro de você e de suas listras verdes e pretas porque chovia no dia ou porque eu não resisto a listras verdes e pretas. você e eu com os mesmos olhos na fila do café. café, chocolate e açúcar.

pelos corredores eu tinha lido Foucault, Deleuze e Derrida. eu poderia te perguntar sobre a morte da filosofia (você ia gastar horas e horas de saliva, eu não sabia merda nenhuma de Foucault, Deleuze e Derrida). mas resolvi ir embora, com o pensamento de que nunca dá certo.


minutos idos, café no estômago, veio o vento, veio a chuva no asfalto, veio a chuva nas nos carros e na janela da biblioteca. três minutos a menos, eu ainda estaria perto da fila do café ou no corredor de Foucault, Deleuze e Derrida com a chuva que me prendia numa prisão com você e suas listras junto. aí tudo seria diferente. poderia rolar um croissant de queijo, talvez, quem sabe. todavia, todavia!

mas, sabe, é que eu tinha prova.

15.5.07

carajos

esses dias em que celular morre, em que iPod morre são um caralho. não que caralho seja ruim, não que caralho seja bom. mas um caralho é ruim e do caralho é bom.

ai, caralho.

14.5.07

frei galvão

a Nicole comia um milho. o Gregório lambia uma colher de brigadeiro. o Guilherme queria camarões fritos e papel-toalha encharcado. eu chupava treze drops Halls, ardidinhos. um montinho de papéis da bala sobre a mesa. comecei neles a escrever pequenos poemas -- poemas-pílula, poemas-biribinha, poemas-serotonina, poemas-de-amor.

acho que ninguém gostaria de ingerir esses pequeninos poemas, a não ser que fossem com leite gelado. (ou, melhor, com limonada suíça! )

hoje, na hora em que você chegou por trás, com todo o seu perfume barato, eu mastigava um Trident de morango com papel. por mais que todo mundo use o seu perfume, eu sabia que era você. sua mão não tava molhada nem mole, como naquele outro dia. a gente se falou, o doce saiu, o chiclete ficou azul e eu cuspi na privada.

acho que a pílula deve ser feita com tinha de papel de Trident.

11.5.07

sobre saudades e tias do pastel

ontem fui a uma padaria próxima ao meu ex-colégio. vi um monte de meninos e meninas descendo a rua com seus uniformes. me perguntei por que havia dois tipos de uniforme - eu tinha esquecido que o do ensino médio era diferente do das crianças (e nem faz tanto tempo assim que me formei!)!

vi também a portuguesa dona da padaria gritando: "falta arroz". ela até hoje costuma gritar do lado do buffet em que, quando eu precisava ficar à tarde na escola, me servia de carne (gordurosa, no caso), salada e molho vinagrete. lembro agora que me sentava numa mesa de onde dava pra ver a cidade lá embaixo pela janela.

entrei no carro com pães e peito de peru enquanto via mais crianças descendo a rua de uniforme. foi estranho - eu fui elas ontem e, se nesse ontem tivesse visto um rapaz que dirige entrando sozinho num carro com pães e peito de peru na mão, pensaria: "que jovem senhor responsável e trabalhador!".

mas eu não sou, pelo menos ainda, um "jovem senhor responsável e trabalhador"! (não que isso não seja uma meta a ser alcançada, mas enfim.)

minhas reflexões continuaram no trajeto de volta pra casa. enquanto dirigia, vi mais pré-adolescentes de uniforme em frente a uma barraca de pastel, com bisnagas de catchup na mão. não era a mesma tia do pastel da minha época, mas era uma tia do pastel! cheguei à conclusão de que toda e qualquer escola / cursinho / faculdade / instituição de ensino tem sua tia do pastel (que não vende só pastel, mas porcarias em geral)! na Univesidade de São Paulo há tia(s) do pastel!

eu ainda continuo preferindo almoçar carne (mesmo que gordurosa, fazer o quê?!), salada e molho vinagrete, mas às vezes é gostoso comer na tia do pastel. terça, por exemplo, comi um sanduíche chamado "O Campeão", cheio de coisas suspeitas e gostosas. é saboroso, substancial e tem um nome bem sugestivo!

- tia do pastel: nome genérico dado a vendedores de pastel, batata frita, bala 7 Belo, Dadinho, sorvete, yakissoba, hot dog, tapioca, churrasquinho de gato, porcarias em geral.

- porcarias em geral: tudo aquilo que sua mãe o proibia de comer na infância ou (quase) tudo aquilo que você, pessoa fresca, tem nojo de comer na rua (espero que não tenha nojo de bala 7 Belo!).


- pessoa fresca: aquela pessoa que eu invejo por ser correta e não comer trash food, aquele tipo de comida que eu adoro.

- trash food: porcarias em geral que eu adoro, geralmente comercializadas por tias do pastel, principalmente próximo a instituições de ensino.

3.5.07

última sexta-feira, festa no céu

"and I am a writer, writer of fictions
I am the heart that you call home
and I've written pages upon pages
trying to rid you from my bones"

(the engine driver - the Decemberists)

jornal abandonado no portão - acabo de ouvir impacto de papel e plástico na pedra fria, num frio desses que rachou meu lábio e fez minha rinite piorar. daqueles que te faz tirar a jaqueta do armário, aquela cara que você nunca usa e que tá há um ano esquecida no cabide. companhia árcaros e poeira. é bom pra fazer espirrar.

essa frente fria veio junto com minha vontade de escrever. ou fiquei com vontade de escrever pela frente fria? não sei, mas foi por causa dela que me embrenhei naquela praça descoberta e de pisos em que a grama invade e retoma seu lugar. me acompanhavam o céu azul escuro e postes de luz amadores. eu caminhava com as mãos nos bolsos do moleton e fugia do mundo dos outros pelos fones de ouvido. Decemberists. isso, Decemberists.
and if you don't love me let me go. olhava pro céu escuro, claro pra noite, e tinha fumaça. nuvem, fumaça daqui de baixo, fumaça de avião. os aviões furavam as nuvens, os dois que vi passar, com suas luzinhas piscantes. passavam por uma linha imaginária, sumiam, reapareciam. eu olhava pra cima, caminhava pra trás. aquilo tudo parecia uma balada, com música frenética, fumaça de gelo, gelo na vodka. eu, debaixo, de só observar, ser um outsider de toda aquela festa, em minha balada-fone-de-ouvido.

desviei meus olhos pro lado dos bairros. não sei se era Alto de Pinheiros, não sei se era Lapa, não sei o que era lá. mas as luzes dos prédios me davam um apertozinho, daqueles que vêm quando quero estar em tudo. e eu olhava à minha volta todo aquele gramado e aqueles bancos vazios. me senti em um enquadramento aéreo e a câmera rodando - um fim de filme, um fim de caso. não sei bem o script. a música ia acabar; coloquei-a de novo, voltei ao mundo real. caminhei pelo escuro, sob as árvores. pisava na lama e na chuva de mais cedo.

29.4.07

cheguei em casa, tirei as meias, os pés respiram, esvaziei os bolsos, chiclete, moedas, carteira, papel, papéis, notas, chave. calça velha, calça folgada, camiseta branca - e velha -, sento-me, pensamento direcionado em um só algo. aperto os dentes nos lábios - a boca rachada. é esse frio que dá vontade de passear porque é muito mais gostoso sentir calor submerso em frio do que não sentir nada no tempo de lar. tem manteiga de cacau?

tinha cansado de escrever, talvez porque tivesse cansado de ficar com aquele pensamento direcionado. mas não deu. o frio me fez passar perto da sua casa de novo e lembrar da madrugada de pés no sofá, de cartas, de música esquisita, de suco de maracujá, de cerveja, de apresentações, de carona que te dei. não sei, às vezes fica tudo muito chato. eu pego um livro, eu sento no chão, eu bebo um chá gelado, eu deito no assoalho do meu quarto, eu babo no chão. eu tento ver um filme japonês, um documentário do Lula, pensar nele outro, fazer a dança da chuva. a civilização burguesa, a civilização do tédio, a minha civilização interna/insana/quero-dar-um-grito. e nada disso. não, tudo isso é muito ridículo.

16.4.07

foi em abril, com música, vodka barata; desmemórias

voltei pra casa meio assim, meio trôpego, meio moribundo, meio mole, meio olhos-secos, meio Chico, meio Banhart, meio rindo por quase tudo ou qualquer coisa. bem desse jeito mesmo. a voz mais grossa por causa da tanta gritaria, aquele incômodo na garganta e meu cantar esporádico, solitário; as mãos na direção. o sol já tinha aparecido e aquele era o horário e dia em que eu estaria, normalmente, indo, não voltando, se esse ano ainda fosse ano passado. eu desci e subi a Cardeal. à pé. eu pensei, pensei seriamente em te ligar, em ir pra sua casa lá do lado, bem do meu lado. não conheço sua casa de manhã. geralmente tudo fica mais bonito de manhã, e eu gosto mais das pessoas de manhã, mas de manhã bem manhã, antes das sete e meia. eu ia na sua casa tomar café e ver o jornal da Globo, mas desisti; àquela altura o nível da bebida já devia ter caido mais de 3/4, eu acho, e você, no sonho. eu sei que você é meio velho, mas você não acorda àquela hora que eu sei. entrei no carro, pra casa. e, também, eu já tinha comido; o pessoal todo andou até o café depois das cinco; pedi sanduíche, comi batatas chips. foi amanhecer comendo chips. manja amanhecer comendo chips? ainda bem que não fui aí mesmo. é que eu contaria sobre a volta do meu ridículo/anômalo sentimento em relação às meias azuis, lembra? pois é. lá dentro, na nada-calada da noite, talvez todos estivessem fora de si, ou pensando jazz, ou com vodka Natasha circulando pelo corpo. mas acontece que, não sei como, aquela mão se estendendeu de um jeito meio estranho, enconstou em mim, e eu peguei nas mãos de um jeito estranho também - nossos dedos meio entrelaçados, moles, molhados. e, depois, no escuro, no escuro da música e do calor e do suor, não sei o que houve direito, não me lembro bem - tudo lá e cá é quente e com névoa -, mas houve algo, alguma coisa, porque eu não esqueço da roupa de fim-de-semana e do pedido. que pedido? maldita Natasha.

15.4.07

domingo, 15 de abril

primeiro vem a parte burocrática do dia: levantar, lavar o rosto, tomar comprimido, escovar os dentes, torrar o pão, fazer café, ler a Folha, ler e-mails, orkutar, responder scraps, ver quem está online no MSN.

depois vem a parte realmente obrigatória e mais importante: fichar o livro Que é História?, terminar leituras, buscar por reportagens, começar - e terminar - o trabalho sobre objetividade X subjetivismo crítico.

e, no fim do dia, a parte mais simpática: fugir de casa por algumas horas, ver pessoas, comer pizza e assistir a algum filme (Maria, talvez) (essa "parte simpática" depende de pelo menos 60% da "parte obrigatória" cumprida).

ao trabalho!

13.4.07

a primeira dead-line

Estou no meio de um corre-corre e de uma gritaria: fechamento de edição (dead line, para os íntimos) do nosso jornal. Mesmo que de forma precária/amadora, a gente faz aqui na faculdade um jornal para a favela São Remo (que fica do lado da USP).

O corre-corre é do pessoal - editores e diagramadores, que tentam terminar tudo da forma mais rápida possível - e a gritaria é minha, um simples repórter cultural que já terminou seu serviço há dias e que grita para deixarem-no revisar algum texto.

(Eu simplesmente a-do-ro revisar textos. Não sei bem por quê.)

Enquanto isso, vão preenchendo uma tabelinha no quadro aqui do laboratório de redação com o que já foi feito e com o que falta acabar. Um dos veteranos riu disso ("que bonitinho!").

12.4.07

a vez que a gente se encosta

sabe, Constant, naquele feriado em que você me contou que tinha acordado zoado sem saber o motivo, eu senti um apertozinho, daqueles pontudos; e depois daquilo percebi que quem acordava zoado todo dia era eu. tem dia que você não quer tirar a cabeça do travesseiro, mas sempre tem a merda do relógio, do rádio, do sol, do celular, da voz de humano que te diz bem-vindo ao mundo real. e são nessas horas de mundo real que eu me sinto como você, Constant, que eu me sinto também como naquele conto do Caio Fernando Abreu, em que a eu/você tá parada no bar enquanto a vida roda feito uma roda-gigante em que tem que ter senha pra entrar; e a gente fica sempe do lado de fora, Constant, a gente nunca consegue senha.

às vezes eu me pergunto por que todo dia não pode ser segunda de madrugada e depois me pergunto de novo por que todo dia não pode ser segunda de madrugarda com cinema aberto e vazio. passaria algum filme em preto-e-branco-e-cinza, com só eu na sala, engolido por aquele exército de bancos almofadados que já sentiram todas as bundas desse mundo. eu não queria todas as bundas do mundo. depois do filme eu desceria por aquelas ruas cheias de prédios só pra ver se em alguma daquelas janelas todas alguém está acordado. depois de filme preto-e-branco-e-cinza eu fico feliz, sabe, é meio que um remedinho temporário que faz eu procurar janelas, querer bater na porta, pedir um café, dizer "oi-tudo-bom-como-vai-vamos-ver-tv". é assim, Constant, é assim mesmo. você pode vir comigo no próximo filme; acho que você é o único que eu consigo ver nos dias de merda em que a vida parece um filme colorido-cheio-de-efeito-especial, tão enganadora que esconde o todo massante e tedioso. Constant, assim a gente fica vendo a roda-gigante girar. e quem sabe a gente vê um preto-e-branco-e-cinza depois e toma café na padaria.

10.4.07

nada de chopp

Maçã diz: e quero conhecer caras bonitos, malhados, charmosos e de barriga de quadradinho

7.4.07

Um post escrito com bastante sono, leite condensado e poesia

Quinta-feira pré-feriado, noite fria. Desço à pé a Rua Augusta. Paro em uma pequena lanchonete com o intuito engolir alguma coisa (que no momento chamei de janta) enquanto esperava amigos passarem de carro para irmos juntos ao cinema. Corte de alguns minutos. Estamos no momento em que perdemos as sessões e descobrimos que todos os cinemas da região estão fechados naquelas horas altas. Continuando de maneira menos cinematográfica, ficamos vindo de cá pra lá, dali pr'aqui e depois pra lá de novo, andando, conversando e só.

Quiseram comer; paramos em um boteco/padaria/pizzaria - não me peçam definições. As meninas pediram sanduíches, o menino pediu fritas e eu uma vitamina (estávamos em 4). Conversas animadas e bocejos finais depois, quando o garçom jogou a conta na mesa como um eufemismo para a frase "é hora de dar tchau", resolvemos improvisar aquela brincadeira feita em datas cristãs, cuja versão pascoalina é denominada "amigo-chocolate". Pegou-se, então, pedaços de papel (usado como toalha americana) e uma caneta na bolsa de uma das meninas. Sorteou-se. A revelação será neste sábado pré-Páscoa.

Acho essas brincadeiras de "amigo-alguma-coisa" muito idiotinhas, mas participo só pra ser idiotinha de vez em quando. Mas me adaptei. Em vez de barras de chocolate (coisa que eu não vejo graça e acho sem sal) (ok, sem sal é mesmo), pedi DUAS RECEITAS DE BRIGADEIRO DE COLHER EM TEXTURA AGRADÁVEL AO MEU PALADAR. Exigi que não se raspasse a panela, pois, para quem não sabe, a raspa do fundo da panela do brigadeiro é aquela coisinha que gruda na parte de trás do seu dente e você precisa passar horas exercitando a língua para, precariamente, tirar o naco açucarado.

E, bem, espero que o brigadeiro não seja o industrializado Moça Fiesta! Não há nada mais anti-poético que Moça Fiesta! Não há nada mais anti-poético que Moça Fiesta, Bolo Pullman, Toddynho e Suco Del-Valle! Isso foi até tema de redação de vestibulares! Não desse jeito, mas quase! E eu, como sou um pró-poético, gosto de brigadeiros feitos em cozinhas de azulejos singelos, cheias de toalhinhas e com um filtro de barro! Mais poético ainda é se o doce for comido direto da panela em uma tarde de chuva assistindo a algum filme sessão-da-tarde! Mas, enfim, acho que a poesia toda não poderá se deslocar para o lugar onde será realizada a revelação do nosso amigo-chocolate. No máximo uns 60% da força poética, porque querem que seja em um estabelecimento cujo nome é Goró. (Mas, como cidadão que luta pela poesia, tenho esperanças da escolha de uma casa com cozinha que tenha filtro de barro e com vários dvds-sessão-da-tarde na sala!).

6.4.07

tipo 'in the search of sunrise' ou horário de rush

eu gosto assim, quando o sol nem é sol direito e fica todo cor-de-terra-alaranjada, manchando os prédios todos, manchando meu braço, meu rosto e o gramado, que enche de poças de luz e sombra, tipo pingo de tinta no papel. se esse sol manchasse você, acho que essa seria a cena que eu guardaria na minha cabeça, tipo uma foto digital que não dá pra rasgar. eu gosto assim, quando as pessoas quase todas já foram embora na hora que o sol nem é sol direito e as luzes de onde a gente passa as manhãs (eu de um lado, você do outro de outro) ficam indecisas.

eu caminho, vejo o sol difuso, as pessoas manchadas e as luzes acesas e apagadas. assim é quando o povo todo tá na rua, tá no carro, carros de faróis indecisos também. e seria mais legal se todo mundo - ou quase todo mundo - tivesse mergulhado no petróleo lá das ruas e a gente embaixo das luzes indecisas e do sol que nem é sol, juntos em algum lugar do nosso lugar de todas as manhãs, na hora em que as instituições querem fechar as portas, bater o cartão, pegar o ônibus pra casa.

tá, eu sei que você foi embora, mas mesmo assim fico te procurando; e peço um café, é barato, cinqüenta centavos. eu caminho e acalmo os passos, olho, e olho, e olho, e olho e ouço Corinne Balley Rae. tem folha seca no chão já, e eu caminho mais.

1.4.07

para Angélica

encontrei-a entre tantos outros, entre muitos diferentes outros; você num canto, como quem não quer coisa nenhuma. toquei-a, folheei suas páginas, vasculhei-a toda, deixei minhas marcas e que os outros a vissem uma vez; “é a tua cara”. e foi assim, vi-a inteira de novo, e de novo, e de novo. mas o tempo explode, e tive de deixá-la. deixei você com todos os outros, com todos os diferentes outros. e não olhei. nem virei.

mas voltei, eu voltei. corri atrás, pensei certo, pensei forte, caminhei por tantas ruas só para pensar e mais pensar. e pensei. e voltei. mas você não estava. procurei com os outros, tentei gostar dos outros, tentei pertencer aos outros, tentei me fundir aos outros, mas não eram. não, não eram.

comecei então a buscá-la em quase tudo, em tudo quase Google Earth. nadando em ventos sujos, conhecendo poças novas, adentrando atmosferas perfumadas, e em shoppings, em lojas de conveniência, em livrarias de bairros abastados e de vilas litorâneas tentei reencontrá-la. onde está? nem que seja pela verdadeira, nem que seja pelo samba, por seu janeiro, por seu fevereiro, por aqueles seus antigos onze anos.

vou, vou, sim, acordar cedo, ligar a cafeteira, torrar o pão, sentar, sentar à mesa. mas, não, nada.

27.3.07

de palito

quando criança
seis, sete, oito
na rua da escola
ele passava
gritava
- ó o sorvete
na sala de aula
eu contava quatro ou cinco
passos
chinelo Havaianas
- ó o sorvete
o mesmo
do bem-te-vi

26.3.07

Sim, Franccino enjôa

Tenho uma amiga italiana completamente enlouquecida que tem um nome completamente brasileiro (Iara). A gente saiu nessa última noite dominical: vimos artefatos legais numa feirinha, tomamos café-batido-gelado-dulcíssimo-hipercalórico-com-chantilly-e-cookies, subimos e descemos a Augusta e nos perdemos de carro no Arouche - ela contando sem cessar sobre a incerta vida amorosa dela e eu falando (nos pequenos intervalos que me restavam) da minha minguada vida pessoal-sentimental. Aí, ela me disse que eu preciso parar de dar fora nos amigos, do tipo furar/dar-bolo/não-aceitar-convites na hora de sair, o que, segundo ela, é comum da minha parte. Na verdade, não é tão comum assim, considerando-se que eu adoro meus amigos e que também adoro sair (na maioria dos casos). Mas é que, às vezes, sou meio esquisitinho mesmo... (E, ressalvo, na grande minoria dos casos...) (Bem, pelo menos eu acho.)

24.3.07

Sábado pela manhã


Você acorda e percebe que a manhã está mais calma que as de terça e não menos calma que as de domingo. É sábado, dia de folga, e você tosta duas fatias de pão, passa requeijão, prepara uma caneca de café com leite quentinho, zapeia os canais de televisão - desenho animado pra todo e qualquer lado - e folheia o jornal.

Você se esquece, porém, que no dia anterior dormiu tarde, às 3h, só por ter sido sexta-feira. E aí, sabe-se lá por quê, acordou cedinho no sábado! Você tenta voltar à cama, rola, se revira, afunda a cara no travesseiro... mas não dorme. Então você se senta e pensa nos planos pra mais tarde: tenta decidir entre o filme à meia-noite ou a balada nova da Barra Funda, se vai ao sebo na João Mendes ou se conhece a livraria que abriu na Lorena, se deve reservar alguma horinha a mais no fim da tarde para dormir ou se deve preparar um café bem forte para acordar de fato e aproveitar seu fim de semana por completo.

Eis alguns dilemas sabatinos.

20.3.07

OUTONO
Cumprimentei os mendigos que moram na rua da minha avó; foram simpáticos. Lembrei do homem aparentemente louco que vivia nas ruas das redondezas e que agora está em Santos porque agrediu uma senhora vizinha e apanhou do filho dela. Não encontrei meias limpas hoje e está cada vez mais difícil caminhar com o dedo esfolado e dolorido. E é chato quando as relações interpessoais são inconstantes, efêmeras e não-consolidadas.
E que venha a consolidação do dia de sol sem tanto sol! Enquanto isso, ouço o CD novo do John Mayer e deixo o vento empurrar minha persiana, fazendo todos meus papéis voarem.

17.3.07

CHOCOLATE ESTRELADO

A gente pode ficar no seu apartamento hoje à noite. Que acha? Faz tanto tempo que não te vejo! Aí, a gente pode ficar alternando os meus cds e os seus. Eu sei que você vai colocar Dashboard Confessional, eu sei que você vai colocar Coldplay, não precisa nem falar! Eu levo do Pete Yorn; agora gosto dele. A gente ouve música e você conta das novidades, sobre o estágio que você tá arranjando, sobre a faculdade que você quer trancar e sobre aquele seu quase novo rolinho; eu te falo daqueles tantos textos que tenho lido, daquelas pessoas que tenho conhecido, dos meus planos pro futuro (aproveito e pergunto os seus) e da vontade de ficar assim, conversando com você, ouvindo música e comendo chocolate até de manhã. Você sabe que não gosto tanto de chocolate... mas, não sei, quando a gente fica conversando assim, sabe, a noite toda, me dá vontade de comer.

13.3.07

PORQUE HOJE É SÁBADO
Eu tô numa fase de não querer sair sem hora pra voltar, de não querer ficar bêbado e nem de querer tanto esbarrar nas pessoas em volta enquanto danço algum som. Eu tô numa fase - que não sei se é daquelas que duram 2 dias ou 12 meses - de querer jantar fora no sábado, ir ao cinema no sábado, caminhar no parque no sábado, comer bolo e beber café no fim da tarde do sábado. Não sei se acompanhado de uma pessoa, de um bando ou de ninguém. E não sei por que tudo no sábado. Vai ver que é o meu inconsciente querendo me lembrar que nos outros dias da semana preciso estudar, ler todos os textos necessários, fazer meus exercícios físicos, voltar ao inglês e ser uma pessoa (quase) disciplinada e estudiosa, como na época de cursinho. Época em que eu estudava, inclusive, aos sábados.

10.3.07

DEPOIS DO BAILE
Chego às 5h30 da festa, acabado. Não costumo chegar assim de festas (acho que bebi um pouco demais). Como um sanduíche qualquer, bebo uma garrafa generosa d'água, durmo e sonho, sonho que uma amiga chamada Ana Carolina pede para ser chamada de Alexia. Ao levantar, uma necessidade estranha de comer chocolate (geralmente só comia em vestibulares). Como uma barra inteira e porosa de Suflair e bebo uma caneca de leite de soja com café, depois de ficar por alguns minutos no MSN e a santa internet cair. Leite de soja não é das coisas mais gostosas, mas, como quase tudo nessa vida, dá para se acostumar (melhor que sentir aquele mínimo enjôozinho que sinto depois de tomar leite de vaca). Agora ouço Jorge Ben. E observo formigas desesperadas sobre minha mesa, minúsculas.

7.3.07

1. Só quatro aulas na faculdade até agora e já me sinto igual eu me sentia no colégio aos 13, quando não tinha noção de como resolver uma equação simples do 1º grau. Não que eu tenha achado as matérias de Jornalismo extremamente complexas - do jeito que eu achava as equações ax+b=c um bicho de sete cabeças -, mas é tanta coisa nova, tanta teoria jornalística, tanto significado, tanto significante, tanto signo, tanta semiótica, tanto Hegel, tanto Hussel, tanto tudo, que, cada vez mais, sinto-me uma esponja de conhecimento (como me chamou, certa vez, um plantonista do Anglo).

2. Assisti, nos últimos dias, Brokeback mountain. É um filme bonito e de sensibilidade ímpar; a cena do beijo que foi eleita o melhor do cinema de todos os tempos é muito bela. Vi também o telefilme High school musical, que apresenta um roteiro quase inverossímel e cheio de furos, mas que é, na verdade, um pretexo para cenas musicais bastante divertidas (com as quais eu tentava cantar/dançar junto) (eu só não entendi por que o casal de protagonistas não se beijou de fato). O último filme assistido esses dias foi Amor à tarde, do Rohmer, na mostra na Cinemateca; o filme entra nos moldes de muitos do diretor, mas não é um de seus melhores. Eu ia ficar para ver Marquesa D'O, mas não agüentei - apenas cinco minutos de intervalo. (Oh, céus, quando conseguirei assistir a vários filmes seguidos sem intervalo?)

3. Descobri que Nescafé é gostoso com leite, mas não tem efeitos "acordantes". Ontem fiz uma experiência: coloquei café preto - de coador, recém feito pela minha mãe e guardado na garrafa térmica - na caneca com um pingo de leite, bebi e fui à faculdade. Resultado: não senti sono algum durante a aula Mayra, que durou umas quatro horas! (Bem, na verdade não sei se foi o café de coador que me fez perder o sono ou se foi a própria professora insana; gostei da figura - ela é louca, e eu adoro pessoas loucas.)

4.3.07

Madeixas

Nos últimos tempos, pelo menos por MSN, me disseram que reclamo demais e que tenho uma "visão negativa" da vida. Se isso é verdade ou não, ainda não concluí. Mas, enquanto meus neurônios trabalham para chegar ao almejada resultado, vou continuar reclamando... (Ok, acabei de comprovar que reclamo um pouquinho demais, mas enfim.) Farei uma reclamação, digamos, bem feminina, do tipo "hoje meu cabelo tá uma merda".
Meu cabelo, que foi raspado à máquina com lâmina nº 2 (tá, nem foi tão curto assim), tem crescido de forma desigual; posso ver algumas regiões em que a taxa de crescimento foi pífia, enquanto em outras, a taxa de crescimento dos fios foi exponencial, o que acarreta numa cabeça que, de esférica, passou a ser um polígono de forma inédita - e bizarra. Com essa descrição (um tanto quanto exagerada, confesso), pode parecer que depois de ter passado no vestibular eu tenha me tornado um monstrinho ou coisa que o valha. Mas nem está tão feio assim. O meu receio, porém, é que o cabelo continue crescendo dessa forma tão... desigual, e aí sim o monstrinho surja de fato. Mas, enquanto isso não ocorre, continuo me divertindo com minhas madeixas que secam de forma extremamente rápida depois do banho, preparo-me psicologicamente para o início das aulas e vou refletindo sobre a questão "reclamo ou não de tudo?" ou "tenho uma visão negativa da vida?".

1.3.07

Hoje fugi na semana dos bixos

Passei em jornalismo na ECA-USP, e hoje, quinta-feira, foi o penúltimo dia da Semana dos bixos, uma semana de atividades de apresentação da Escola e do curso e de integração entre os calouros e entre calouros/veteranos. Apesar desses ritos de passagem (e qualquer tipo de mudança brusca no cotidiano) serem um tanto quanto difíceis pra mim, e apesar de eu não conseguir ser uma pessoa daquelas extremamente simpática que têm um comentário bacana para qualquer coisa (e, portanto, com dificuldades em fazer amizades), tô gostando bastante da Semana e, principalmente, da ECA.
Mas hoje fugi das atividades. Vi uma palestra com ex-Ecanos ilustres até o fim, mas, cansado ao extremo, voltei pra casa cedo. Foi, de certa forma, minha primeira "cabulada" de aula de minha vida acadêmica, apesar de eu ter cabulado um almoço no Bandejão, um sarau e uma espécie de "Jogo do milhão". E é difícil eu desistir de algo por cansaço. Posso evitar começar a fazer algo por preguiça, mas interromper alguma atividade por cansaço é extremamente raro (uma boa prova disso é o exemplo da balada: ao chegar de alguma, inclusive daquelas fortes mesmo, tomo banho, como, folheio o jornal do dia e entro na internet, enquanto a maioria das pessoas deita na cama com a roupa que chegou, sujo, engordurado, fedendo a cigarro.). Bem, devo estar ficando velho... (Deve ser porque, finalmente, estou na faculdade.)

23.2.07

faz assim, ó, passa o carnaval sentado sobre o toco da árvore observando tudo em frente: as elevações que eu teimo em chamar de montanhas - mesmo sabendo que não são - (cobertas ora por grama verde e manchas de árvores, ora por terra vermelha), as vacas em comboio, os cavalos solitários, mais verde, sol, nuvens, o céu todo. tudo isso muito bucólico e mais o Vectra e a cerca dos vizinhos de baixo, que não entrarão no seu campo de visão (a não ser que você caminhe pra frente e abaixe a cabeça). mas olha pra esse bucolismo todo ouvindo Pedro the lion, aquela banda lá que eu te mandei um monte de música no MSN. ouve Bad things to such good people; não que a letra queira dizer algo - eu nem sei direito o que ela diz -, mas ouve. e olha pra frente, a frente como um quadro, um quadro impressionista, surrealista, cubista, não sei; do estilo que for o mesmo das suas estranhas (vai ser difícil se auto-conhecer dessa forma; acho que eu nunca conseguirei achar o ismo do meu quadro; não sei quanto a você). dá pause no som rapidinho e tenta ouvir o rio, se é que pode se chamar aquele filete de água esverdeada de rio. faz tudo, tudo isso e lembra de mim.

16.2.07

Mimese aristotélica

Na madrugada de domingo para segunda, quem passasse numa das esquinas da Paulista veria eu com amigos brincando de mímica. Nunca fui muito bom de mímica e nem gostava muito do assunto (uma vez no cursinho, por exemplo, o professor de literatura fez diversas mímicas para falar de mimese aristotélica - e achei aquilo tudo um saco), mas até que esse jogo de madrugada foi divertido. Formamos duplas - eu com a Julia, o Douglas com o Bê. É claro que a nossa dupla - a minha e a dela - foi a vencedora! Também pudera. Inventávamos coisas difíceis de se mimificar: erva-cidreira, adoção de crianças, ponto de táxi, shopping Eldorado, João Guimarães Rosa. Enquanto eles, pobres mortais, na maioria das vezes, se limitavam a elementos óbivios, como... torneira (tá bom, eles tiveram algum mérito de ter algumas idéias criativas e tal, mas o nosso "erva-cidreira" supera tudo!). E essa foi a minha madrugada.

12.2.07

Um desvario adolescente

Já sonhei em ser diretor de colégio, produtor de TV, dono de boate, roteirista de filme, chef de cozinha, professor... mas passou. Na verdade, não passou por completo, vai; ainda tenho (muita) vontade de dar aulas, e, exceto o "diretor de colégio", não descarto nenhuma das outras possibilidades.
Isso ilustra a minha tese de que muitos sonhos são voláteis, apesar de deliciosos enquanto duram. O meu atual sonho, por exemplo, é continuar sendo um notívago, mas virar um notívago colunista de jornal que mora solitário em seu apartamento, escreve compulsivamente colunas até de madrugada e vai jantar filé em uma padaria 24 horas às 5 da manhã. Um colunista quase glamouroso que recebe uma penca de convites para festas, estréias, vernissages e não vai em (quase) nada. Que tem em casa uma mesa cheia de livros, jornais, revistas e pode comer nos restaurantes mais caros de graça. Que dorme com um bloquinho do lado para anotar idéias repentinas, caminha na calçada construindo frases de efeito, se dá ao luxo de não atender a telefonemas e é viciado em cafeína.
(Pronto. O desvario adolescente acabou.)

2.2.07

Meu retiro

Estou passando a semana em Peruíbe com meu avô de mais de 80 anos, no que chamo de "retiro espiritual". Sim, estou exilado por conta própria. O principal motivo é que preciso dar um pause na minha vida de sempre, me despir ao máximo dos excessos tecnológicos, dos conhecidos, da poluição, enfim, da vida que levo na metrópole paulistana para conseguir suportá-la (gosto muito da vida metropolitana, mas a mesmice me esgota). Para se ter uma idéia, eu não tinha viajado no Réveillon e ainda achava, em meados de janeiro, que estávamos em dezembro! (Percebi isso quando pedi na banca de jornal a Caros Amigos do mês doze!)
A viagem está servindo não só para eu dar um pause em minha vida metropolitana, mas também para eu voltar a ver tv, muita tv (vejo todos os jornais noturnos, pedaços de novelas vespertinas, programas peculiares como "Todo seu" etc.), a ler (estou lendo 2 livros ao mesmo tempo, algumas revistas e todas as manhãs leio o jornal na praia, como de costume, apesar de que a cada dobrada que tento dar nele ele vêe no meu rosto), e a fazer serviços domésticos - tenho despertado meu lado "Dirce": fiz arroz, macarrão, picanha, varri o chão, lavei a louça e até aprendi a lavar a roupa (sem máquina)!
À parte disso, tenho tentado dormir cedo (mesmo conseguindo dormir no mínimo às 4h da manhã) e ir à praia todo dia "cedo", apesar de eu ter agora que evitar isso devido às "arduras" de meu corpo que sofreu muito pelo sol do meio-dia nesses últimos dias (algumas regiões dele estão extremamente vermelhas e outras, tornando-se negras).
Está gostoso, enfim. Mas não vejo a hora de voltar à minha Paulicéia, respirar fumaça, ir ao cinema, tomar cerveja, comer hambúrguer e batata-frita. Mas, enquanto isso, acho que vou dar um pulo a uma pracinha aqui do lado e comer um acarajé suspeito (apesar de vender em Sampa, é mais gostoso comer aqui!).

28.1.07

Save Ferris

Eu quero falar uma coisa, mas estou com receio. É que se eu falar vão achar que eu fui uma pobre criança sem infância ou que sou um jovem sério demais... Tá bom, vou falar. Devo falar. Ai... Aí vai: eu nunca tinha assistido a Curtindo a Vida Adoidado até a última quinta-feira. Calma! Eu sei que esse é um clássico da Sessão da tarde, que a Globo já reprisou o filme umas 912 vezes e que 98% das pessoas da minha idade já o viram - mas eu não tinha assistido até então. Uma boa explicação para isso seria o fato de eu ter sido eu um garoto que cursou a maior parte de seus anos escolares no período vespertino e que, dessa forma, era impossibilitado de assistir a programas que passam à tarde, como a Sessão... da tarde. Uma outra explicação plausível seria o fato de eu, quando criança, ter tido como preferência absoluta de canal televisivo o SBT, talvez por ser o canal do Carrossel, ou, mais provável, pela influência da Cida, uma babá que cuidou de mim e de minha irmã, que passavam a semana em casa e adorava novelas mexicanas como Rosa selvagem e programas "jornalísticos" como Aqui agora; dessa forma, o fato de eu estar na comunidade orkutiana "O SBT formou meu caráter" não é graça nem discurso, na medida em que eu preferia em meus temos pueris assitir a Mara Maravilha a Xuxa, Bom Dia & Cia a Tv Colosso e Maria do Bairro a O Rei do Gado. Mas o fato é que curti o Curtindo a Vida Adoidado, achei o filme um tanto quanto divertidinho e bobinho, do jeito que gosto. Mas, mais que isso, gostei dele porque o filme - por ter como protagonista um garoto que perde um dia de aula para "curtir a vida" em uma Ferrari junto com a namorada e o melhor amigo - tem a resposta de por que em vez de eu ter sido um garoto-problema-cabulador-de-aulas-para-curtir-a-vida-adoidado-em-uma-Ferrari, me tornei um garoto-problema-exageradamente-dramático-revoltado-rasgador-de-advertências-escolares-e-que-passou-trote-à-polícia-nos-EUA (mas essa é uma longa história).
obs. 1: Talvez eu tenha exagerado na minha porcentagem de 98%.
obs. 2: Ok, admito: exagerei (descobri isso quando percebi que a maioria dos meus amigos também nunca tinha assistido ao filme!). Exagerei também no meu "receio": fiz "doce". Mas, perdoe-me, leitor: esses exageros são resquícios de minha infância embriagada novelas mexicanas.

26.1.07

453 e o meu suicídio fictício

Comemorei os 453 anos de minha cidade querida em grande estilo: assistindo ao filme São Paulo S/A à 0h do dia 25 de Janeiro. Tá certo, isso não foi bem uma comemoração, mas foi como se fosse, e serviu de introdução para a real comemoração, que, meio improvisada, meio de última hora, surgiu na minha cabeça e foi posta em prática logo depois de sair lá do Espaço Unibanco. Em vez de bolo, pizza de 3 cogumelos do Pedaço da Pizza; em vez de champanhe, chá gelado da Nestlé; em vez de Limousine, um Fit meio sofrido com o qual desci a Augusta - não "a 120km/h" - no máximo, no máximo a 30km/h.
Às quase 3 da manhã, havia um trânsito dos infernos, principalmente no trecho em que os motoristas diminuíam ainda mais a velocidade para observar duas putas que estavam encostadas em uns carros estacionados; uma delas usava um vestido verde transparente, que mostrava a calcinha, na qual, por cima do vestido, ela acariciava delicadamente; a moça, se é que posso assim dizer, não parecia ser um traveco e não era daquelas putas capengas - era um tanto quanto gostosa e, na verdade, até bonita. Aí imaginei por que diabos ela era puta, por que raios essa mulher bonita ficava esfregando a mão na calcinha em plena Augusta - poderia ao menos estar em um "puteiro cinco estrelas" -, depois imaginei que a Augusta talvez daria mais lucro: provavelmente trabalhando na rua ela eliminasse terceiros; depois, ainda, me dei conta que não entendo nada de putas.
Seguindo para casa, passei pela Vila Madalena, por uma rua em que havia muita gente "mãe, quero ser rua Augusta". Não que a Augusta tenha apenas um esteriotipado tipo de pessoa - ao contrário, lá a diversidade étnica/sexual/tribal, que seja, impera -, mas, apesar de eu adorar a Vila, havia umas pessoas estilo "rua Augusta apagada" que, inclusive, atrapalhavam a passagem de meu auto pela rua (fato que desconfio ter despertado minha ira e ter tecido esses comentários ácidos sobre tais pessoas). E isso porque eu estava por lá simplesmente à procura de um café; havia me dado uma vontade fodida de beber café (não que eu seja amante da bebida ou coisa que o valha, mas deve ter sido porque minha irmã alugou a segunda temporada de Gilmore Girls e aquelas garotas, não sei o que dá nelas, bebem mais café em um dia do que as mijadas que dão durante a vida toda).
São Paulo ser chamada a cidade que não dorme pode ser exagero, mas talvez também seja exagero um cara querer tomar café às 3h da madrugada e procurar por uma cafeteria aberta. Sim, tinha a Frans Café 24h, mas, no fim, fiquei com preguiça (talvez por estar sozinho) de parar, e preferi comprar Nescafé no Pão de Açúcar, também 24h. Acho que esses vinte e quatro horas são a salvação de pessoas como eu que, por ideologia (ridícula que seja)/gosto/costume/doença/amores mal resolvidos, não dormem nos horários convencionas. Acho que o fato de eu olhar para as janelas de quase todos os prédios por que passo em frente durante a madrugada para saber quantas janelas têm luzes acesas é uma forma de me sentir mais incluído na sociedade/na cidade/no planeta Terra. Acho que no dia que eu não vir nenhuma janela acesa, podem ter certeza de que meu suicídio estará próximo. Mas São Paulo, a cidade que (quase) não dorme, nunca terá luzes apagadas, e, dessa forma, ela - a cidade - salvará minha vida! Talvez me achem dramático ou essa história de suicídio um extremo exagero meu, um transeunte-motorista-all-nighter que vaga pela metrópole de madrugada. Mas São Paulo é a cidade do exagero: da cratera imensa na obra do metrô, dos gigantes espigões na Paulista, das filas quilométricas das marginais e do Cinemark! Então, deixe-me ser exagerado também, porra.

22.1.07

Sobre amigos, quilos e dadaísmos

O processo da amizade é algo muito estranho. No início, todos (os recém-amigos) são muito simpáticos, cuidadosos, fazem piadinhas e tudo mais. No meu caso, então, tento ser simpático e convencional, apesar de, na realidade, eu ser uma pessoa quase antipática (o melhor termo seria "uma pessoa sem simpatia aparente") e com toques insanos (equaciono idéias borbianas e construo frases dadaístas (?), como essa). Aí, eu começo a lembrar como todo início de amizade é chato, pelo menos para mim, porque tentar ser simpático e inrrustir meus momentos de loucura é... "osso" (espero ter empregado corretamente essa gíria muito falada atualmente, nesse caso querendo ser tradução de algo muito "difícil" ou "foda"). Principalmente depois de uma sessão de "deletamento" de scraps do meu orkut (os mais "tendenciosos", que poderiam expor algo de minha minguada vida pessoal), percebi a extrema dificuldade - minha e de todo mundo - em manter amizades. Eu tenho um pouco de dificuldade em ingrenar, em sair do papo "oi, o que fez no fim de semana" para o "por que você acha que o novo namorado da sua mãe é gay?", mas acho que, nos últimos anos, minha grande dificuldade foi a de "manter" também. Manter não só amigos, mas também o meu peso corpóreo, porque, enquanto perdi amigos, ganhei quilos, muitos quilos (engordei um bocado). Agora é correr - literalmente e metaforicamente - para perder os quilos e (re)fazer os amigos, "sin perder la ternura jamás". (Neste caso específico, o sinônimo de "ternura" poderia ser "frases dadaístas".)

13.1.07

Whisky

São quase onze e meia e eu me pergunto se você ainda vem. Estou na frente deste computador, rodando a caneta na mão. Tento rabiscar algum papel e a tinta sai sem nexo; meus pensamentos não têm nexo enquanto espero você chegar. O que me faz largar esta tela gelada, esta caneta, esta tinta, este papel é algum som que me faz correr à janela para saber se é você, meu bem. E por mais que eu já tenha ido mais de doze vezes na esperança de te ver, e por mais que eu ache tudo isso patético, você não vem. São meia-noite e quarenta e eu me levanto para tomar um café na cozinha. Meus passos pelo piso são cuidadosos para não correr o risco de perder a sua chegada. O café está frio. Cuspo tudo na pia e volto a rodar a caneta, a escorrer a tinta sem nexo e a olhar pela janela. São duas da manhã e já estou na terceira dose de uísque. Me odeio por não conseguir te odiar, por não conseguir me jogar desta janela só para não perder a sua chegada. Queria que você viesse logo, segurasse este copo, bebesse neste copo, que eu fosse este copo. Mas acho que só sei esperar. São quatro horas e o copo se esfacela. Cacos de vidro pelo chão.

11.1.07

Sobre o momento

Preciso andar me metrô, ver rostos e flashes urbanos.

10.1.07

Fragmentos de férias anteriores

É tempo de alugar DVDs na 2001 ou na Blockbuster e atrasar na devolução. É tempo de visitar aqueles sebos preferidos e garimpar por livros que há algum tempo estou para ler; e de ler aqueles que há alguns meses comecei e parei no capítulo 3. É tempo ir à praia, levar o jornal do dia e tentar ler enquanto o vento teima em amassar o papel na minha cara. É tempo de descobrir novos bares, novas pistas de dança e de criar minhocas na cabeça a respeito do futuro.

9.1.07

Rebouças em trajes de gala

Os pneus atritam no asfalto claro. Entro no túnel. Pergunto-me onde estarão todos aqueles carros que às sete não me deixam fluir. Talvez, por ser janeiro, estejam a milhares de quilômetros; talvez, por ser sábado, divirtam-se na imensa cidade; talvez, por ser noite, estejam deitados em seus leitos. Sinto vontade de estar em todos, em tudo, ser todos, estar em todos os lugares, desmanchar-me no ar e permanecer em cada recanto de tudo que é matéria para poder existir de todas as formas. Acho que penso nisso tudo pra saber se vivo certo.

5.1.07

Ângulo

Hoje, cinco de janeiro, pela última vez: cheguei atrasado, tomei no copo descartável aquele café de um real (dessa vez com açúcar, muito açúcar), ouvi aquele sinal estridente, mijei no mictório do banheiro da lanchonete, deixei o carro no estacionamento de solo pedregoso, atravessei a Consolação, esperei o semáforo com a Paulista esverdear e... Haverão, haverão outras vezes em que beberei um mísero café em copo de plástico ou botarei meus tênis na rua da Consolação, mas aquelas foram as últimas, últimas porque as outras vezes farão parte de um não-sei-o-quê.
Eis o verdadeiro ritual de passagem.

3.1.07

Traquinagens

A gente dividia um pacote de bolacha. Você comia o recheio cor-de-rosa e eu mastigava o biscoito. A gente andava de meia pela sala; eu deitava no sofá e você, na cama. A tv, o rádio. E a tarde desceu sábado e domingo.

Para constar

A virada passei na casa da minha avó. Como em toda boa festa de família nipônica, houve uma suruba alimentar (no bom sentido, claro); todo mundo junto: bacalhau, sashimi, carne de porco e moti! (Moti, para quem não sabe, é uma massa de arroz que geralmente é comida no ano-novo para dar sorte; pode vir dentro de um caldo cheio de "troços", que variam do shitake à coxa de galinha esfacelada, ou algo do gênero). Depois da comilança, tomei banho de ofurô, deitei na cama que faz massagem (sim, minha avó tem uma cama massagista) e também me dei conta de que adoro os banheiros da casa dela!
OBS: as "últimas" do ano (vide post anterior) foram: uma bala doce demais, alguma música que não lembro qual e "essa é a minha hora e a minha vez" (acredite!).

arquivo do blog