28.1.07

Save Ferris

Eu quero falar uma coisa, mas estou com receio. É que se eu falar vão achar que eu fui uma pobre criança sem infância ou que sou um jovem sério demais... Tá bom, vou falar. Devo falar. Ai... Aí vai: eu nunca tinha assistido a Curtindo a Vida Adoidado até a última quinta-feira. Calma! Eu sei que esse é um clássico da Sessão da tarde, que a Globo já reprisou o filme umas 912 vezes e que 98% das pessoas da minha idade já o viram - mas eu não tinha assistido até então. Uma boa explicação para isso seria o fato de eu ter sido eu um garoto que cursou a maior parte de seus anos escolares no período vespertino e que, dessa forma, era impossibilitado de assistir a programas que passam à tarde, como a Sessão... da tarde. Uma outra explicação plausível seria o fato de eu, quando criança, ter tido como preferência absoluta de canal televisivo o SBT, talvez por ser o canal do Carrossel, ou, mais provável, pela influência da Cida, uma babá que cuidou de mim e de minha irmã, que passavam a semana em casa e adorava novelas mexicanas como Rosa selvagem e programas "jornalísticos" como Aqui agora; dessa forma, o fato de eu estar na comunidade orkutiana "O SBT formou meu caráter" não é graça nem discurso, na medida em que eu preferia em meus temos pueris assitir a Mara Maravilha a Xuxa, Bom Dia & Cia a Tv Colosso e Maria do Bairro a O Rei do Gado. Mas o fato é que curti o Curtindo a Vida Adoidado, achei o filme um tanto quanto divertidinho e bobinho, do jeito que gosto. Mas, mais que isso, gostei dele porque o filme - por ter como protagonista um garoto que perde um dia de aula para "curtir a vida" em uma Ferrari junto com a namorada e o melhor amigo - tem a resposta de por que em vez de eu ter sido um garoto-problema-cabulador-de-aulas-para-curtir-a-vida-adoidado-em-uma-Ferrari, me tornei um garoto-problema-exageradamente-dramático-revoltado-rasgador-de-advertências-escolares-e-que-passou-trote-à-polícia-nos-EUA (mas essa é uma longa história).
obs. 1: Talvez eu tenha exagerado na minha porcentagem de 98%.
obs. 2: Ok, admito: exagerei (descobri isso quando percebi que a maioria dos meus amigos também nunca tinha assistido ao filme!). Exagerei também no meu "receio": fiz "doce". Mas, perdoe-me, leitor: esses exageros são resquícios de minha infância embriagada novelas mexicanas.

26.1.07

453 e o meu suicídio fictício

Comemorei os 453 anos de minha cidade querida em grande estilo: assistindo ao filme São Paulo S/A à 0h do dia 25 de Janeiro. Tá certo, isso não foi bem uma comemoração, mas foi como se fosse, e serviu de introdução para a real comemoração, que, meio improvisada, meio de última hora, surgiu na minha cabeça e foi posta em prática logo depois de sair lá do Espaço Unibanco. Em vez de bolo, pizza de 3 cogumelos do Pedaço da Pizza; em vez de champanhe, chá gelado da Nestlé; em vez de Limousine, um Fit meio sofrido com o qual desci a Augusta - não "a 120km/h" - no máximo, no máximo a 30km/h.
Às quase 3 da manhã, havia um trânsito dos infernos, principalmente no trecho em que os motoristas diminuíam ainda mais a velocidade para observar duas putas que estavam encostadas em uns carros estacionados; uma delas usava um vestido verde transparente, que mostrava a calcinha, na qual, por cima do vestido, ela acariciava delicadamente; a moça, se é que posso assim dizer, não parecia ser um traveco e não era daquelas putas capengas - era um tanto quanto gostosa e, na verdade, até bonita. Aí imaginei por que diabos ela era puta, por que raios essa mulher bonita ficava esfregando a mão na calcinha em plena Augusta - poderia ao menos estar em um "puteiro cinco estrelas" -, depois imaginei que a Augusta talvez daria mais lucro: provavelmente trabalhando na rua ela eliminasse terceiros; depois, ainda, me dei conta que não entendo nada de putas.
Seguindo para casa, passei pela Vila Madalena, por uma rua em que havia muita gente "mãe, quero ser rua Augusta". Não que a Augusta tenha apenas um esteriotipado tipo de pessoa - ao contrário, lá a diversidade étnica/sexual/tribal, que seja, impera -, mas, apesar de eu adorar a Vila, havia umas pessoas estilo "rua Augusta apagada" que, inclusive, atrapalhavam a passagem de meu auto pela rua (fato que desconfio ter despertado minha ira e ter tecido esses comentários ácidos sobre tais pessoas). E isso porque eu estava por lá simplesmente à procura de um café; havia me dado uma vontade fodida de beber café (não que eu seja amante da bebida ou coisa que o valha, mas deve ter sido porque minha irmã alugou a segunda temporada de Gilmore Girls e aquelas garotas, não sei o que dá nelas, bebem mais café em um dia do que as mijadas que dão durante a vida toda).
São Paulo ser chamada a cidade que não dorme pode ser exagero, mas talvez também seja exagero um cara querer tomar café às 3h da madrugada e procurar por uma cafeteria aberta. Sim, tinha a Frans Café 24h, mas, no fim, fiquei com preguiça (talvez por estar sozinho) de parar, e preferi comprar Nescafé no Pão de Açúcar, também 24h. Acho que esses vinte e quatro horas são a salvação de pessoas como eu que, por ideologia (ridícula que seja)/gosto/costume/doença/amores mal resolvidos, não dormem nos horários convencionas. Acho que o fato de eu olhar para as janelas de quase todos os prédios por que passo em frente durante a madrugada para saber quantas janelas têm luzes acesas é uma forma de me sentir mais incluído na sociedade/na cidade/no planeta Terra. Acho que no dia que eu não vir nenhuma janela acesa, podem ter certeza de que meu suicídio estará próximo. Mas São Paulo, a cidade que (quase) não dorme, nunca terá luzes apagadas, e, dessa forma, ela - a cidade - salvará minha vida! Talvez me achem dramático ou essa história de suicídio um extremo exagero meu, um transeunte-motorista-all-nighter que vaga pela metrópole de madrugada. Mas São Paulo é a cidade do exagero: da cratera imensa na obra do metrô, dos gigantes espigões na Paulista, das filas quilométricas das marginais e do Cinemark! Então, deixe-me ser exagerado também, porra.

22.1.07

Sobre amigos, quilos e dadaísmos

O processo da amizade é algo muito estranho. No início, todos (os recém-amigos) são muito simpáticos, cuidadosos, fazem piadinhas e tudo mais. No meu caso, então, tento ser simpático e convencional, apesar de, na realidade, eu ser uma pessoa quase antipática (o melhor termo seria "uma pessoa sem simpatia aparente") e com toques insanos (equaciono idéias borbianas e construo frases dadaístas (?), como essa). Aí, eu começo a lembrar como todo início de amizade é chato, pelo menos para mim, porque tentar ser simpático e inrrustir meus momentos de loucura é... "osso" (espero ter empregado corretamente essa gíria muito falada atualmente, nesse caso querendo ser tradução de algo muito "difícil" ou "foda"). Principalmente depois de uma sessão de "deletamento" de scraps do meu orkut (os mais "tendenciosos", que poderiam expor algo de minha minguada vida pessoal), percebi a extrema dificuldade - minha e de todo mundo - em manter amizades. Eu tenho um pouco de dificuldade em ingrenar, em sair do papo "oi, o que fez no fim de semana" para o "por que você acha que o novo namorado da sua mãe é gay?", mas acho que, nos últimos anos, minha grande dificuldade foi a de "manter" também. Manter não só amigos, mas também o meu peso corpóreo, porque, enquanto perdi amigos, ganhei quilos, muitos quilos (engordei um bocado). Agora é correr - literalmente e metaforicamente - para perder os quilos e (re)fazer os amigos, "sin perder la ternura jamás". (Neste caso específico, o sinônimo de "ternura" poderia ser "frases dadaístas".)

13.1.07

Whisky

São quase onze e meia e eu me pergunto se você ainda vem. Estou na frente deste computador, rodando a caneta na mão. Tento rabiscar algum papel e a tinta sai sem nexo; meus pensamentos não têm nexo enquanto espero você chegar. O que me faz largar esta tela gelada, esta caneta, esta tinta, este papel é algum som que me faz correr à janela para saber se é você, meu bem. E por mais que eu já tenha ido mais de doze vezes na esperança de te ver, e por mais que eu ache tudo isso patético, você não vem. São meia-noite e quarenta e eu me levanto para tomar um café na cozinha. Meus passos pelo piso são cuidadosos para não correr o risco de perder a sua chegada. O café está frio. Cuspo tudo na pia e volto a rodar a caneta, a escorrer a tinta sem nexo e a olhar pela janela. São duas da manhã e já estou na terceira dose de uísque. Me odeio por não conseguir te odiar, por não conseguir me jogar desta janela só para não perder a sua chegada. Queria que você viesse logo, segurasse este copo, bebesse neste copo, que eu fosse este copo. Mas acho que só sei esperar. São quatro horas e o copo se esfacela. Cacos de vidro pelo chão.

11.1.07

Sobre o momento

Preciso andar me metrô, ver rostos e flashes urbanos.

10.1.07

Fragmentos de férias anteriores

É tempo de alugar DVDs na 2001 ou na Blockbuster e atrasar na devolução. É tempo de visitar aqueles sebos preferidos e garimpar por livros que há algum tempo estou para ler; e de ler aqueles que há alguns meses comecei e parei no capítulo 3. É tempo ir à praia, levar o jornal do dia e tentar ler enquanto o vento teima em amassar o papel na minha cara. É tempo de descobrir novos bares, novas pistas de dança e de criar minhocas na cabeça a respeito do futuro.

9.1.07

Rebouças em trajes de gala

Os pneus atritam no asfalto claro. Entro no túnel. Pergunto-me onde estarão todos aqueles carros que às sete não me deixam fluir. Talvez, por ser janeiro, estejam a milhares de quilômetros; talvez, por ser sábado, divirtam-se na imensa cidade; talvez, por ser noite, estejam deitados em seus leitos. Sinto vontade de estar em todos, em tudo, ser todos, estar em todos os lugares, desmanchar-me no ar e permanecer em cada recanto de tudo que é matéria para poder existir de todas as formas. Acho que penso nisso tudo pra saber se vivo certo.

5.1.07

Ângulo

Hoje, cinco de janeiro, pela última vez: cheguei atrasado, tomei no copo descartável aquele café de um real (dessa vez com açúcar, muito açúcar), ouvi aquele sinal estridente, mijei no mictório do banheiro da lanchonete, deixei o carro no estacionamento de solo pedregoso, atravessei a Consolação, esperei o semáforo com a Paulista esverdear e... Haverão, haverão outras vezes em que beberei um mísero café em copo de plástico ou botarei meus tênis na rua da Consolação, mas aquelas foram as últimas, últimas porque as outras vezes farão parte de um não-sei-o-quê.
Eis o verdadeiro ritual de passagem.

3.1.07

Traquinagens

A gente dividia um pacote de bolacha. Você comia o recheio cor-de-rosa e eu mastigava o biscoito. A gente andava de meia pela sala; eu deitava no sofá e você, na cama. A tv, o rádio. E a tarde desceu sábado e domingo.

Para constar

A virada passei na casa da minha avó. Como em toda boa festa de família nipônica, houve uma suruba alimentar (no bom sentido, claro); todo mundo junto: bacalhau, sashimi, carne de porco e moti! (Moti, para quem não sabe, é uma massa de arroz que geralmente é comida no ano-novo para dar sorte; pode vir dentro de um caldo cheio de "troços", que variam do shitake à coxa de galinha esfacelada, ou algo do gênero). Depois da comilança, tomei banho de ofurô, deitei na cama que faz massagem (sim, minha avó tem uma cama massagista) e também me dei conta de que adoro os banheiros da casa dela!
OBS: as "últimas" do ano (vide post anterior) foram: uma bala doce demais, alguma música que não lembro qual e "essa é a minha hora e a minha vez" (acredite!).