28.9.07

hakuna matata

abro a porta. a lâmpada fluorescente pisca e pisca.

a porta da cozinha nunca fecha, e uma barata corre para dentro dela. mas nada vejo.

ouço uma barulho de crocância sob meus pés verdes. piso num exoesqueleto de quinita. que me desculpe a senhora lá, mas também gostaria de sentir nos dentes a crocância e engolir o creminho.

27.9.07

dias de jogos

havia decidido: era o dia dos prazeres orais; dia de molhar, morder, sentir o sabor e engolir. mas não foi como gostaria, porque, ao menos pelo que ela me disse, foi dia de querer tudo pelo contrário, de degustar para fora, de sentar no meio-fio – a lua meio apagada, os carros com suas luzes e as palavras e as palavras e as palavras. com ele.

mais cedo, ela tinha caminhado pelos belos jardins de inverno. belos, belos e belos. negou, balançou a cabeça, mordeu o lábio, parecia uma louca: não pode ser, não, não, não, não.

era a primeira vez que negava. eu nego, tu negas, ele nega, nós negamos, vós negais, eles negam. mas gostava disso – era ele.

26.9.07

eu queria escrever no cérebro
acelerar
soltar pela voz

11.9.07

queijo cottage

acordei meio de mau jeito, tomei café, saí. assisti a uma aula sobre rousseau, a outra aula sobre o imaginário. almocei couve e lagarto. tentei chupar uma laranja – a arte de chupar laranja –; não deu. corri, aula de inglês; péssima redação – composition – eu fiz. depois da aula, fui procurar aquilo, tentar reencontrar aquilo; não foi dessa vez. em casa, acabei cochilando e assisti a dois espisódios do seriado. à noite, comi qualquer coisa frita e corri para, quem sabe, encontrar aquilo que tanto quero reencontrar; não deu, de novo; perdi horas, me frustrei. fui à drogaria comprar remédio – tem o cartão da loja? fica com desconto –, à locadora devolver o dvd – o que o senhor deseja? –, ao pão de açúcar comprar pão, suco, iogurte, cottage, toddy, barra de cereal, requeijão – é cliente mais? aproveitei para flertar no pão de açúcar, ver o carrinho dos outros, imaginar os outros e as coisas dos outros em uso, o cara engravatado com seus frascos de amaciante (lavando roupa?), a senhora de cabelos tingidos e peitos avantajados com seus legumes (sopa para emagrecimento?) e o rapaz loiro de roupas modernas e suas cevejas e sucos del valle light (malhar e andar de cueca pela casa?). oh, god, dormir é preciso nesses dias de frustração.

4.9.07

tivesse eu uma pele para contar sardas, para aproximar os olhos dos aracnídeos cutâneos, para colocar na água quente e despelar suavemente, cortar, juntar, ferver; distração para os dias em que nada funciona: a lâmpada do quarto, o chuveiro no banheiro, meu radinho de pilha, minha voz, minha memória, meu pescoço, minhas vísceras. então, à noite, sem som das ondas do rádio, levo meus olhos às páginas de um livro amarelado enquanto aguardo, com a ânsia lá dentro, o momento matemático da contagem, que durará até – espero – o fechar dos olhos.