26.12.08

natal em oito

os insetos que não me esquecem. e é de noz, de tofu, de cereja, de natal. eu digo que quero de volta, isso bem no recôndito da memória, quando cochilo no sofá na espera da campainha do aparelho. ao mesmo tempo, não quero outra revolta, de 20 anos mais ilusões, do outro lado, leste, e da falta de fala. se vier, eu vou, e a vida vai ser outra. mas o medo de que seja outra é muito grande, grande demais, pesada demais, do tamanho do monstro dos sonhos de antes, que empurravam o carro ladeira abaixo, nada com os sonhos de 20 anos mais tarde, sem carros, mas com listas de 'porquês'. os motivos da vida - que causam -, flechas - que levam e lançam para não sei onde. tento cantar com os vidros levantados, porque a voz não é das melhores, tento caminhar de rosto baixo, porque a expressão não é das melhores, tento usar a malha e o cachecol, porque a saúde não é das melhores, e tento tirar-extirpar um pedaço da carne que se criou já um tanto degradada, porque assim é melhor, porque por mais eu não saiba bem o que se faz de bem ou de mal, tudo que é feito com uma força maior que o comum é prejudicial. mas isso foi tema de uma outra reflexão, segundo a qual precisa-se empurrar um pouco com a ponta dos dedos em uma superfície lisa, quase livre de atrito, para que haja vida, mesmo que prejudicial.

Um beijo

É um corpo mais alongado, e as formas mais finas. Sorrio e tento juntar as palavras para que elas saiam de forma, pelo menos, mais lúdica. E eu estou bem.

E não é que se disse a verdade quando disse que se vinha?
E não é que se disse a verdade quando disse que se ia?

Às vezes, pode parecer trabalho perdido o de juntar. (E eu estava bem.)

Morder o lábio mais forte. E o pescoço também.

A cena do meu rosto no afastamento, na luz que incide, nos olhos que se fecham e na reaproximação (efêmera).

Um beijo.

21.12.08

isso aconteceu com g. manzo.

ela namorava um rapaz indeciso, inseguro e medroso, mas o amava. acontece que, alguns meses depois, não deu certo e acabou. corriqueiro assim (?).

g. manzo já conhecia um outro cara: decidido, excêntrico, imprevisível. a primeira vez que eles ficaram juntos, em uma fração da noite, ele colocou cuba libre na boca dela da forma mais esquisita desse mundo. ela aprovou. mas nada começou nem acabou.

outro dia, ou outra noite, g. manzo foi atrás de tudo que fosse nada daquilo tudo. terminou em casa, assistindo 'pushing dasies' e procurando desesperadamente por achocolatado no armário para escurecer um pouco seu leite desnatado.

17.12.08

1º de agosto

quando vou digitar, e a barrinha reta de onde saem as letras pisca, eu vejo um risquinho à direita dela, e é incômodo, parece um grão de sujeira, e depois você olha bem e parece um acento, e quando você se dá conta, não é nada.

eu ia falar de querer, de conhecer, de gostar, mas deixa. nem tudo precisa ter amor. ou pelo menos finjo acreditar.

11.12.08

à esquerda

se pudesse, encaixotaria a memória e mandaria embora. como não há fotos, cartas ou presentes, a memória. se pouco restou daquilo de pegar, isso veste significado novo. memória, não. apagá-la é extirpar parte da vida, é tirar pedaço da linha do tempo, apagar mil parágrafos da biografia.

declaração

eu respondi: foi no carro, conversando, na esquina da rua dos pinheiros com a pedroso. timidez.

quando a mulher maravilha me beijou, eu tomei banho na vó e não molhei o rosto. no dia seguinte, eu andei pelas roupas do largo de pinheiros, e minha tia perguntou o que era aquela marca.

amanhã, nas ruas de não sei onde, não vai ter gente perguntando o que foi a marca. porque as marcas estão nos dedos, eu não vou lavar os dedos, e ninguém vê os dedos, porque é o mesmo perfume que eu elogio, que eu sempre elogiei, e eu nem sou de elogiar. nos últimos dias, duas pessoas de extremos opostos disseram que gostam quando elogio, porque, quando não gosto, não gosto mesmo.

é, eu sei que tinha que falar mais 'que bonito' ou 'como gosto', não que tudo isso seja elogio, e não que não seja verdade, e nem sei por que eu não falo. talvez por medo de alguma coisa. mas, se lesse isso, você saberia, eu gosto do perfume, vou dormir com ele, não sei o que será dele amanhã, nem de mim amanhã, mas o perfume dorme comigo.

você dorme comigo todas as noites, mesmo que a duas universidades daqui, mesmo que distante feito sonho, mesmo que sem presença de ficar com perfume no dedo, e às vezes eu tenho o pensamento feio de que a vida deveria ser de longe, que o amor deveria ser só de um, sem mais nada.

talvez seja mais fácil. com perfume ou sem perfume, é difícil, deixo de ser o que pareço, mas eu queria. queria conseguir não escrever cartas e fingir que nada é assim. porque fazia nove anos que eu não levantava pensando em alguém,e que meus pensamento não se dirigiam o dia todo a alguém. talvez o orgulho até então não deixasse que outro me ocupasse que não fosse eu. e talvez chegou a hora de entregar os pontos. de dizer para deixar a vida. deixa ela.

como se tudo pudesse ser numa bolha, eu numa bolha esperando, nada além que importasse, só você vir e ganhar remédio, cama, banho. porque não teria que ter um roteiro já estabelecido que ainda não sei direito como cumprir, e que você deve saber bem. talvez porque a bolha fosse como um filme sem pé nem cabeça, e nos entenderíamos, você entende de lá e cá. mas é difícil.

dói um pouco a matemática e de saber de como gosta da matemática. dói pensar que para tudo dar certo tem que ser assim, ou dói pensar que talvez ser assim é o certo que talvez seja o não certo. dói pensar nisso tudo e não poder contar os pêlos, as pintas e quantos passos são dados do café ao nosso lugar, os muitos lugares de sentar e deixar a vida. e digo sempre, é, deixa a vida. deixa, deixa. não de ir, mas de ficar, mas ficar não preso, pro vento.