27.12.09

papel' ou do que é preciso

do que preciso agora é um pedaço de papel. de planta que já foi viva e agora é papel, ou de papel que já foi papel e hoje vira papel linha, papel b, papel c, papel d.

se nas esquinas do que se pode chamar de companhia de toda vida encontrei um guarda-chuva, me pergunto por que não um pedaço de papel. não é fácil depender de quem precisa ser carregado a cada três horas!

é por isso que levo assim: aos pouquinhos. era de se economizar.

porque preciso do preciso. senão, dá vontade de pegar o avião - e olha que para acontecer precisa de muito. é que, mesmo a mim, não basta a vida da bolsa térmica com salada de quinua, passas, tomatinhos, pedacinhos de damascos, castanhas e suco de limão.

eu apenas digo tchau (muitas vezes nem isso) porque a vontade agora é de virar do avesso, do avesso de novo e do avesso de novo, mil e uma utilidades.

[banco da prainha, tarde chuvosa, companhia de formigas e notebook, dezembro/2009]

alvy singer

foram três outubros e quase no dia anterior: eu no meio da rua vazia, você em sua antiga casa, eu perto do Mackenzie, meia e bermuda no corpo na cama, filmes - talvez, "Annie Hall" -, e um "oi" no computador que, é, não se lembra muito bem. e tudo começou estranho desde aí: claro, escuro, claro, escuro, com eu que ainda espero, principalmente em outubro, quando tem chuva sim, chuva não e rua vazia e molhada com cheiro de natal. porque desse ano eu esqueci da sexta e não procurei pelas pessoas - e nem canudo colorido teve. nisso, pensei comigo sobre o dia da mão no cabelo e você, ah, que gentileza, que maravilha seria se a vida fosse uma costura de encontros, de sorriso bobo e ruguinhas que fecham os olhos. eu ainda te vejo nesses pontos de ônibus indo sempre nas mesmas manhãs de sábado, mas o trajeto, eu tento mudar.

22.12.09

glacê real

aquela quinta-feira foi um pouco de açúcar, e o sorriso no travesseiro quando não tem mais luz é o toque de felicidade que a vida precisa para não desistir de tudo. é como se, no dia seguinte, tudo dá certo porque, além de lembrar de ontem, o ar está úmido e parece que vai continuar chovendo. e eu consigo trabalhar para que as horas passem logo e eu possa continuar a sorrir.

quando não consigo mais atravessar as noites, penso nas tardes passadas sob a árvore, quando eu nem ligava para aroma de café. ter uma companhia assim me faz esquecer de vida de verdade e só lembrar da lembrança de querer sua mão no cabelo. é melhor querer sem poder do que não querer mais nada.

9.11.09

e a luz chegou quando em outra já se estava. não em outra gente, outra troca, mas em outra era, como se tudo trocasse de repente.

e lia-se quadrinhos do japão no transporte público e ouvia-se o oculto no transporte público. lá também se via o desconhecido até a boa hora chegar.

mas quem chegava era a luz. e era eu. e eu sou imperador dos reencontros, por mais que o resultado não se dê, ou se dê fraco, quase morto.

vanguarda russa

quando ouvi os sininhos, pensei na bailarina dançando, rodopiando por entre os corpos espaçados. achei estranho ouvir sininhos (mesmo que melodia concebida eletronicamente) depois de tudo continuar na mesma. o que é pior: tudo continuar na mesma explicitamente. é quando vem uma notícia verbal - escrita, falada ou sei lá - que constata: tudo está na mesma, não há novidade no caso, trate de esquecer de tudo e iniciar um novo estudo. minha nova hipótese, portanto, diz respeito às xícaras de porcelana branca. e eu, ó-ceus, que falei que a cerâmica era porcelana e vice-versa?! mas que coisa besta, meu deus! e, sim, ele me disse que eu reparo nos detalhes mais sem sentido, mas eu sinto nos detalhes. só não respondi isso a ele. eu reparei, por exemplo, que um sorriso na noite de sábado se estirou por todos os cômodos: a escada; a sala; o espelho do banheiro. por fim, apenas atravessei e reparei nas meias. quem repara em meias, meu deus? uma vez eu sonhei. vanguarda russa, eu dizendo: mas que moldura bonita, meu deus. acorda. e mais notícias recebo de que tudo continua na mesma, e eu respondo - novamente a mim mesmo - que pelo menos consegui verter três lágrimas na sala escura na noite de domingo. para mim mesmo, é claro.

7.10.09

andaime

porque esta tarde, no trajeto, eu vi os limpadores de vidraça. lembrei daquele fim de semana do começo. se eu esperar até o final do ano, vai ser o tempo de morte do cabra marcado. e, minha casa, aquele dia ficou marcado! foram 20 minutos e expectativas depois, e depois, e depois, até o final com direito a sorriso adolescente. depois tchau, muito tchau, e ainda.

18.9.09

contar carneirinhos

estava tudo sobre a mesa: as cópias, as folhas em branco, o estojo com canetas e até um gole d'água para as pausas menores. mas não deu. e não foi a primeira vez que não deu, claro - e cada uma é por motivo diferente. mas a água por entre os fios de cabelo a essa hora da noite me dá tanto sono que a vontade é de dormir assim, molhando os fios da fronha, e acordar com previsível resfriado, imprevisível formato sobre a cabeça e a apatia matutina de se pensar se se deve ir à aula, ler o jornal com o café ou trabalhar um pouco, adiantando a noite, que pode ser de serenidade, como a de hoje, primeiro capítulo na televisão, ou agitada por demais, como a de cinco noites para trás, de quando fui reconhecido pela camiseta azul. e eu confesso: sei muito de sua vida. colégio das margens, ano de ingresso na academia, data de nascimento, gostos musicais da adolescência - da atualidade também. e eu rio, porque quando azul era malha listrada, eu nada imaginaria sobre essas músicas de cinco anos antes, época eu nem tinha ipod - e, se você for ver, cada música no itunes leva para um pedaço de tempo e de lugar. se eu escutar, por exemplo, aquela canção da quinta-feira de depois da camiseta azul, no momento da peça-de-roupa-a-qual-não-nomeio-por-não-me-lembrar, digo que busco por um sorriso, apenas. "um sorriso, apenas". nome de obra de ficção que quer dizer "muito mais que isso", afinal, eu sei o dia em que você nasceu e torço para que pise no mesmo chão que eu na mesma noite que eu nos mesmos olhos que eu. isso quer dizer que toque na pele diferente que a minha, uma na outra, e quer dizer que olhe para lugar diferente do meu, um no outro, e que dedos e cabelos e ombros e sofás se harmonizem e que as luzes se apaguem e o chão deslize e tudo se embaralhe e eu me lembre um pouco disso quando me desligar do mundo e ligar a nova luminária de neon, presente de aniversário em setembro, número de meses depois do seu cujo quadrado dá oitenta e um. eu e um.

20.8.09

pavilion

essa música é de molhar o olho, eu recomendaria. ouvi o carnaval todo, junto com sopa de legumes, crouton, abajur, novela das sete, notebook novo e o pensar em um só.

hoje, deu tanta vontade da música que esqueci de esquecer de olhar a foto perversa. quase começo dança por entre máquinas no instante em que os olhos cederam à estiagem.

estendo a mão para o ar na marginal pinheiros, a pé. saudações.

4.8.09

desde 2000

ainda há pouco a cheirei, e não é mais como antes, quando me apaixonei. ela já não tem o aroma de nove anos atrás, quando caí em amores, mas eu ainda gosto dela, e nem sei se o que me fez me apaixonar foi o cheiro dela ou ela. naquele tempo, não existia John Pizzarelli, Márcia ou Adriana, pelo menos para mim. e, para o mundo, no qual eu estou em, não havia bar Tubaína. existia, pelo menos, o restaurante Halin e a sorveteria Alaska, da vovó. e, claro, o chá de capim santo desidratado, em saquinho - e não deixa muito tempo na água para não amargar. já existia o aquecedor de água para chás em redações de revistas, mas não tão modernosaos como o visto nestes dias, e a saudade ou a vontade. e é de comer MM's de amendoim vendo filme B, filme A (mas não para mim) na sala escura, de não dar para escolher a cor do confeito, igual naquele filme de oito anos em que o doutor só comia os marrons porque não tinham corante - ah, eu duvido que não há corante marrom lá. e todos têm o mesmo gosto, a não ser um ou outro amendoim já ido. e o horário não era dos mais tardios, depois das 23h30 não tinha ônibus, igual àquela vez em que eu voltei de táxi após contemplar os prédios chiques e feios, mas bonitos para o momento. e eu sonhei no escuro do cinema na mão na mão no joelho no joelho, e qual lado seria melhor, esquerdo ou direito?, meu rosto para a esquerda, acho, e minha mão nos cabelos, mas sem olhar para ver se você está rindo na mesma hora que eu, porque, deuses, é tão clichê! mas eu olho e eu descubro que não sou o único que corre do clichê, mas, deuses, clichê é tão gostoso, confortável, de se sentir em casa. quando o filme era realmente A, começou com trufa, porque eu vi o casal da frente comendo, e logo depois procurei nas bancas de jornal, avenida Paulista, cursinho no dia seguinte, mas os confeitos se tornaram o bolo alemão, mas que bolo caro!, massa firme, frutas e frutos dentro, tão bom, enfiado no saco e comido arrancando pedaços no escuro. hoje sou adepto ao expresso e à água nas salas, amargo e insosso. reflexos? tenho saudade do cheiro de baunilha dela, de nove anos atrás, o cheiro era bom, ficava na mala, no quarto, e agora só no nada.

16.7.09

George desperta

nessa noite, George foi aonde não devia. quando voltou, deu uma saudade que logo mandou embora - sempre, sempre.

era aquela calmaria diária, ele indo a cada hora na garrafa térmica pegar café, aquela preguiça quente, fugas, andaças por bosques, pés em folhas, e a saudade da saudade, as piadas de que ria por fora, conversas no celular, planos para a noite, bom assim, constância gostosa.

foi indo à cozinha, pelas panelas, que viu que a tristeza era de alguns meses para cá. George, então, tomou banho, lembrou de como era mais gostoso água quente aos sete e teve vontade de pintar uma parede do quarto. cor de carne. mas a tinta não iria fazer tanta diferença, ele vai de olhos fechados.

11.7.09

qp

traz música, vinho e pq. desde as nove, no sofá, espero o pq mais que tudo. capaz de distinguir acima de setenta tonalidades de cinza - paulistano, e a janela daqui de casa, tela de sofá, me traz todas elas. só pausei para café, banheiro e olhar varanda. roupas de ontem, pés de sempre, cinza e mais cinza e pq.

29.6.09

domingo estranho

cheguei a perguntar a mitre por que eu estava no sim hoje. e não foi um rosto apenas - foram muitos. por mais que não existiu garganta e persistiu o olho, preocupei. não de mal, mas de estranhar e gostar. foi quando, num momento de pés não gelados como já, folheei as revistas - pingos de shoyu. mas que sabor bom, meu deus! fazia croc-croc na alga, e que peixe bem cortado! eu pensei que tudo poderia ser diferente, e a noite seria gostosa, de folhear mais revistas - dessa vez em casa, e com meia-luz. ah, mas que noite gostosa! fica mais que chá faz bem.

12.6.09

branco, escuro, retorno

aquilo foi de chegar e fechar os olhos. um estória extraordinária, quase. é quando você tenta se desligar do entorno e se entrega, mesmo que árduo.

o mais bonito, no entanto, é o a seguir, de abrir os olhos sem barulho algum e continuar estático em ontem. felicidade-mor, explosão.

e você fecha os olhos de novo, no outro, à noite. e vem macia e firme, cor uniforme, um toque - e fica.

o problema são os ruídos. muitos e mais, que me entortam da linha. e, ao mesmo tempo que tento apagar a palavra da esquerda, a da direita não escapa. fica perto, perto: nos planos.

2.6.09

línguas em línguas em línguas

meu rosto tá ardendo. por quê, ele pergunta. ela responde: porque não sou uma menina que se preze. como assim? ele me beijou e eu nem sei direito quem é - o último. e era uma barba que espetava, só a pontinha, roçava e agora arde. na hora foi bom. eu sei. mas pensei que fosse um pouco maior. foi, sim, mas esse era outro, um pouco maior, e um pouco salgada. mas por que não é uma que se preze? por isso, eu não vi o rosto, estava bêbada, estava meio escuro, com um copo de plástico e pinga, guaraná e gelo derretido, um monte de gelo derretido. uma garota que se preze não bebe pinga com guaraná, no máximo vodca com energético. uma garota que se preze não come um dogão desse inteiros, nojentos, cheios de ervilha e cheddar de mentira, por que você tem que ir toda vez nessa barraca? é perto de casa, oras, e você me deixa em casa. você volta de trem da próxima vez! nem no parque vou mais por causa desse sanduíche. meu, no intervalo da aula você vai atravessar a ponte e vir aqui que eu sei! ai, cala a boca, você não tá nem aí mesmo. porra, não entendi qual é o problema, você beija uns caras que nunca viu porque tem vontade, qual o problema? o problema é que eu não sou uma que se preze. meu, nem sei o que é prezar. você faz letras. eu queria que fosse mais bonito. eu também. eu não sei por que quando eles me vêm eu fico um pouco, dou beijinho e depois uma desculpa e vou embora. talvez porque não seja aquilo tudo, porque, se fosse aquilo tudo, não viria até aqui. neura. e, na última vez que era aquilo tudo, foi embora, bem explícito. vocês se viram depois que eu sei. sim, uma pra nunca mais. acho que é porque eu quero uma coisa que não tem. lars and the real girl.

26.5.09

bonito e distante

ele me disse: vai por Nazaré. e eu não sei se passei um pouco do ponto ou se não cheguei ainda no ponto, mas fui até onde o olhar alcança o máximo: o que parece um mar de luzes, imóveis pelo horário, por baixo de uma espécie de morro, no topo oeste, onde eu estava. então agora o trabalho era descer e descer até se sentir perdido. menos 'vamos nos perder', porque a solidão era maior que as canções, apesar de menos grifada. e a tarefa foi chegar até a artéria e fluir, pontos e pontes mil, até chegar à conclusão de que o sentido estava errado: nunca se sabe se se deve ir para o lado de lá ou o de cá, se o de lá vai para o sul ou norte e vice-versa. por isso, às vezes, é preciso retornar, fazer um rápido passeio, bem o que se chama de 'dar uma passada' - na Vila Guilherme - e ir embora, tal qual na vida, onde se vai para destinos diferentes, se volta e se tem a ideia de que, já que se estava lá, dar uma passada para ver se você está lá, de maneira que você é o outro lá, e você, qualquer um, passa sob pontes e pontes e pontes, vê o rio na madrugada e tantos carros que ainda deveriam estar na garagem, e acha curiosos o fato de que no rádio tocou a mesma música das esperas de dois anos atrás no banco das folhas e das artes, e agora era no banco das noites com as mesmas procuras, e me lembrei da última vez em que estive aqui: foi naquele fim de férias, quando você me contou todos os segredos e eu preferiria saber depois para não acabar assim, de repente, e eu poder dizer 'vamos nos perder', pra ficar com mais graça, mais tempo, mais de surpresa e não ter medo de ir para o sul, norte, virar na ponte, porque é sempre bom descobrir novos trajetos. a gente não tem tanto tempo assim.

texto ruim de telefone de mentira

e ela acha que não vou conseguir dormir: foram 350 ml de muita cafeína. que tipo de viciada em café você é que toma uma latinha de coca light e não consegue dormir? não consigo, não consigo, não consigo, e quero tomar mais dois banhos, lavar os cabelos, lavar o corpo, me secar, colocar o pijama, tirar o pijama e entrar no chuveiro de novo. é que tudo poderia ser como ontem: beber um pouco de coisa doce e ruim e escutar 'mamma mia' e cantar 'mamma mia'. e confessou/; tenho dificuldade com coisa nova, demoro um pouco pra me adaptar, mas depois faço direitinho. o problema é que nem sempre dá pra ter paciência igual a minha, de deixar a vida ir. eu sei. deve ser por isso que eu teimo em não dormir à noite. no fundo, é mais por querer, pra tentar ter um pouco menos de paciência. mas chega, você precisa dormir.

25.5.09

fim de era

hoje, depois de muitos anos, não quero ser mais encanador. pior ainda, desencanador.

encana, desencana.

hoje, depois de muito pensar, quero ser eletricista. pode ser menos sexy, mas faz ligações e dá energia.

nada de encana-dor. é eletricista.

...no fundo, fundo, fundo, eu queria ser um espana-dor.mesmo que um espana-dor ama-dor: é inevitável.

9.5.09

aspas

tão sem força que qualquer declaração rara me faz tevantar e ter vontade de fazer um chá.
e, do chá, sentar e maquinar em cima da fala: abre aspas - declaração - fecha aspas. deixa eu fazer um google doc, salvar no word, anotar de caneta e lápis no bloco de papel. não esquecer nunca: declaração-verdade.

tão incrédulo que acharia que a declaração rara é falsa - muito mais falsa que rara.
e, mais que rara ou falsa, suja mais tendenciosa: declaro algo e, em troca, algo. (mas, claro, pode ser bom para ambas as partes.)
então vamos publicar!
não, não; não pode.
coisa rara, boa e verdadeira, por que não?
quero pra mim.

deleto google doc, word, queimo bloco de papel, nem na pele tatuo (pele pode ser pública).
pergunto ao doutor, diretor da faculdade, chefe de departamento, maior nome na área se dá pra tatuar no peito, dentro. mas a fonte não retornou a ligação até o fechamento da edição.

3.5.09

azul a verde

e quem disse que esse tipo de amor é coisa de poética de metrópole? coisa que se acha em manuscrito no bolso. se é amor, se é poética, se é manuscrito, falem o que quiser.

só precisava registar que senti. ponto. senti, ponto e talvez uma interrogação, porque não sei bem o sentido; só que queria sentir mais.

31.3.09

mais

ela não se esquece de você chegando mais perto para falar coisa qualquer.

podem ter sido as cervejas. mas ela sempre acha que não.

vanguarda relativa

me dá um beijo. bem de cinema.

ou

beijo.

no medo. no de não.

30.3.09

la distance

foram dois chopes, pelo que se lembra; nada além disso. na verdade, foram dois chopes e uma bronca de sujeito que ele quer nunca mais ver na vida. foram dois chopes, uma bronca de desconhecido e uma pequena fuga - duração máxima (desta): 20 minutos. refletiu, nela, sobre as calçadas quebradas, acerca da relação homem/natureza, de saber se aquelas ruas deveriam existir, e perguntou a si se daquelas janelas se dava para ouvir de tudo. um choro de criança, pelo menos, foi possível.

mais de uma hora depois, o sofá era outro, uma espécie de sofá, aliás, no qual se deitou, e o casal do lado (uma das quatro mãos) chegou nele, como se procurasse/quisesse algo. ele gostou, de certa forma, das carícias. nesse instante, era algo muito mais do que dois chopes, uma bronca e uma fuga. era algo como mais umas doses de limão, gin, água tônica, asco pelo rapaz da fila e vontade de dançar aquela música de tesouro/tesoura.

e o seguinte é que a coisa continua meio que na mesma, o interesse/desinteresse, a tentativa de entender as relações humanas e de se pôr em todos os lados/cantos/meios/poros/tampas. errou o caminho por três vezes de volta para casa no dia seguinte e não aguenta mais a história de dizerem que não sabem onde estão, porque, por mais que tivesse sido muito mais do que chope, bronca, fuga, dose, asco, vontade, perda, desvairio, ele chegaria.

23.3.09

janta

deixei o carro perto do café e caminhei mais até a editora porque pensei que, assim que você me ligasse te chamaria para ir comigo.

mas esqueço que você é cheio de regras e eu tenho que fechar meu notebook e ir para casa jantar.

19.3.09

me afastar

você é meio cheio de coisas, e parece, quando está comigo, nos momentos raros de estar comigo, que eu consigo apreendê-lo, ter, ao menos, um panorama geral de você. eu não sei se esse seu ser cheio de coisas é um pouco do que foi embora, e o que fica é você, ou se você é tudo isso, e eu então estaria certo em tentar, de certo modo, me asfaltar, porque quando é muita coisa eu não aguento.

18.3.09

sem banho

não tomei banho porque pensei que a narrativa da noite anterior ficaria no corpo, mas meus braços não estão mais com seu cheiro, como ontem. e eu gosto do fato de você não usar perfume e ter um cheiro seu tão gostoso, de guardar em frasco e comprar na viagem mais distante, aquela que faria com você, pelo menos se nos encontrássemos novamente, tomássemos mais cervejas, comêssemos algumas tapas e você abraçasse mais. assim eu conseguiria ser menos atrapalhado, pelo menos na sua frente

vinte

isso demorou vinte minutos para chegar até a casa, de madrugada, de carro, de inglês. não se pretende tomar banho esta noite, mesmo que, na manhã seguinte - ou tarde, que seja - a narrativa presente no cheiro do corpo traga más lembranças. um molho de chaves com méxico como protagonista diz muita coisa.

eu meio que experimentei um pouco mais na noite passada e bebi demais também e, voltando para casa, nos vinte minutos, pensei em um só objeto, ao qual sou nada entusiasta; sou, inclusive, crítico ao extremo, mesmo tentando ser quase nada. e vejo que é meu objeto da sorte, que me cruza na esquina sem gato preto, e com quem tenho que estar por sempre, porque os outros me contestam, e não por poder, mas por querer poder.

eu pensei, ou imaginei nos vinte, que por mais que eu experimente tudo que tenho vontade ou que precise, prove sabores, anote no meu bloquinho e depois critique, sempre vou gostar da mesma coisa, do prato de sempre, feito por mamãe, mesmo que sem gosto de friday i'm in love.

12.3.09

lá pra cá

depois que passaram as mulheres, três das quais com listras horizontais bicolores, comecei a ver tudo em listras. primeiro, as mais óbvias, como as quatro faixas com muitas faixas no asfalto, formando um quadrado. depois, o portão, os tijolos, as linhas nas paredes. refleti que não queria alguém com listras, mas essas coisas nem sempre se dá para escolher. no entanto, quando vem sem listras e de uma cor só é quando mais quero, só que mais querer não significa mais ser querido.

e foi na fila da padaria que eu pensei. não dá pra saber bem o porquê, tudo é dúvida, e dúvida não é pergunta. é claro que uma hora eu posso dizer 'calma aí' e perguntar, ser didático, até, mas prefiro dirigir até o córrego, girar na rotatória, olhar os prédios, adivinhar a janela. e sempre foi meio assim.

eu poderia fazer um relatório bem detalhado, anotar todos os pontos, grifar, algo assim, bem didático de novo, igual queria a fala, ou objetivo, de chegar e dizer, sem perguntar e ponto. e só. parece simples por cima, como tudo.

mas que gosto de trident. de hortelã.

6.3.09

mais de meia noite depois

agora, que tenho junto ao corpo os panos mais velhos que conseguiram sobreviver do fatídico destino dos chãos sujos e baldes de sabão, pondero que o fato de eu ter tomado um expresso à quase meia-noite não foi das ações mais inteligentes da história. eu não tenho sono agora e, pelo menos para me sentir mais próximo aos outros, gostaria de estar domindo neste exato momento em que meu indicador tecla o número 25. na mesa do café de madrugada, com espuma de chocolate, avelã e nomes de pintores, eu digo que não aguento mais trabalhar. não que não goste de, mas porque foi tão bom passar os dias sozinho de lavar a louça com chet baker. de conseguir chegar à vila mariana em 20 minutos, atravessar uma cidade, sentir chuva de carnaval. e esta noite eu ainda reflito, maldito expresso, porque não sei por que digo, faço, invento sentimento, reação, fala, e nem sei o que sinto. porque foi o dia todo assim, de não conseguir sentir.

4.3.09

bola de canhão

falhas só de fotos. um pelo que falta, dois pelos que faltam, três pelo que falta. de uma hora vem a outra e funciona assim, de mudar de repente.

não vejo imperfeições, só sorrisos. menos quando se afasta assim, de não dizer nada. mas gosto quando chega assim, de dizer e não dizer.

não é tão difícil, acredite.

e eu sei que também preciso acreditar, acredite.

leitão-reação-epitácio

casinha colorida, casinha colorida, daqui a pouco tudo isso vira prédio de cor só. piscina, churrasqueira & cia. bala, bombom, chocolate e siga bem, caminhoneiro. e caminhadas de domingo com celular. alô? oi, tô te esperando. a rua nem parece tanto de espera. e eu não quero que você pense que sou daqui; tô longe, muito longe.

*
é que com um eu atravesso meia cidade. com outro, um quarto da cidade. e eu gosto de ficar longe; parece que assim a gente se isola. às vezes, é bom.
*
de monet lá.

27.2.09

toc, toc

o código é ao acordar
e o passar do dia com a foto na cabeça
e dizer, para si mesmo, que tem tantos planos
só planos. e planos. e planos
e passar as horas pesquisando. como escavar uma parte da vida
faço um pouco disso nos encontros
só poucos grãos
me diz o que é
me diz.

9.2.09

pré-carnaval

ele precisa cortar os cabelos. talvez no meio da semana isso vai ser possível, entre um intervalo e outro. e, quem sabe, sobre um tempinho para o almoço - que dizem ser fresco, gostosinho - por menos de vinte reais. mas aí ele vai ter que correr, não só na esteira, mas na cidade, mesmo que dentro do carro, para chegar a tempo, tanto no bairro do João como no bairro do Léo. no fim de semana, ele espera, vai poder comprar o roteador do notebook, tão necessário para usar em casa pra lá e cá; planejou, nesse dia, comer uma feijoada, nem precisava ser lá no centro, mas necessitava ser gostosa. mas o francês atrapalhou seus planos. talvez ele arranje nova companhia para comprar e comer neste sábado, mas, pelo que parece, caminhará sozinho pelos centros - velho e novo. falta também ir até a livraria Martins Fontes, lá na Paulista, comprar livro de espanhol. e que vontade de voltar a estudar espanhol e fazer todos os exercícios de antes da unidade 7, que, em tese, ele sabe. pelo menos é o que pensam.

2.2.09

das teorias

me fazem falta. eu fujo, me atenho e esqueço.

tênis esportivos

quando tiro, é difícil encontrá-los

eu gostaria de me confundir e sair ele, ela, eles, elas, tantos, sem me esquecer como esqueço de tantos eles/elas nessa vida de palavras que vem, parecem ficar, mas viajam longe e quase nunca voltam. eu poderia marcar nos cantos, fazer riscos sob os itens, grifar, transcrever, cortar e colar, mas nem sempre é tão fácil, que eu deixo levar, ir, feito vento, feito viagem longa, igual a das palavras, que a vida continua. e seria melhor parar de confundir mesmo, porque às vezes ser é sair, e então muda tudo.

13.1.09

hello sunshine (ou segredinhos)

alguém pediu que você tenha paciência com os enganos. não é fácil encontrar seu prédio num labirinto de ruas tão indígenas e européias que se encontram. esse alguém poderia até ligar do pão de açúcar e perguntar como-chego-aí, mesmo na terceira ida, mas então você perguntaria em-que-pão-de-açúcar. e desce em 5 minutos que eu tô chegando, e traz guarda-chuva que aqui já começou a chover.

alguém confessa que, no momento em que você colocou o cd do lcd soundsystem, quis escutar adele, apesar de você nem curtir tanto assim. alguém confessa que também nem curte lcd tando assim, mas que gosta de cantar 'são paulo i love you, but you're bringing me down' com o rádio desligado enquanto tenta se acalmar ao ler, procurando sua morada, nome de rua tão idiota que junta ministro e godói.

alguém pede desculpas por ter ficado tão bêbado na balada fashionista (promete que nunca beberá tantos mojitos assim), por ter quebrado sua segunda caneca favorita e por não ter resistido e comido a coxinha da ofner que seria de presente e - segredo - mero objeto de conquista após a descoberta sobre do que seu paladar se sustenta. eu vou pra casa, ressaca braba, onde eu deixei meu carro?

alguém assume que se acha ridículo por segredinhos, mas jura que com o tempo revelará todos eles. ou quase eles todos. um abraço, boa noite e até a próxima oportunidade.

JEL

E começava a 3ª semana. (Ainda) Aquele negócio de falta de intimidade. Carro na frente. Ele toca o interfone.

Ela disse: pode subir. O porteiro disse: pode subir.

Ele vestia a 2ª melhor camisa. A 1ª havia sido usada no 2º encontro (ou 1º oficial). Perfumado e asseado, ajeitou o cabelo no espelho do elevador.

A porta estava aberta. Ela disse: oi. Ele disse: oi. Ela disse: não quero mais.

*

Ele chegou em casa, tirou a camisa e a colocou para lavar. Ele nunca mais vestiu aquela camisa.

9.1.09

JML

Eu assisti ao sol descer de dentro do carro em movimento. Pensei: janeiro é isso. Ou talvez. Depois de subir e descer ruas, vi aquele restaurantezinho simpático. À moda da casa, li no cardápio. E esse foi o pedido ao garçom. Durante a espera, um pouco de Jânio de Freitas, uns goles em gelo, limão e gás. Olho para a mesa da frente, três: cabelos longos, óculos, barba. Lá dentro, voz conhecida e vinho. Ao lado, dentro também, simpatia. A rua escurecia com caminhada, carro, moto, cão. Veio frango, arroz e batatas coradas, comi quase tudo. Quando levantei, o vento era meio frio, nem parecia janeiro, como quase tudo.

inícios [2]

Foi um período de pré-estréias, diversões noturnas, algumas caminhadas. Pergunto se vida é isso ou aquilo. Pergunto o que é praia, férias, janeiro, telefone celular.

Depois daquela linha tem um rio. Foi avisado. Ou, pelo menos, achei que fosse. Aprender, sempre. Reaprender a escrever. Nova tarefa.

Esforço, suor e um pouco de ética.

2.1.09

inícios

o ano passado começou com 'a culpa é do Fidel'. não lembro bem sobre o que eu pensava. a tarde era agradável, a Augusta estava quase cotidiana. até encontrei a menina com biscoito integral.

este ano começou com 'a bela Junie'. foi expresso, água, como quase sempre, e chuva, poça d'água. fui para a Augusta de propósito, e estava vazia, muito. queria sentir a mesma coisa que senti quando a moça me alertou do rato. mas foi nada.

arquivo do blog