26.6.10

fim e dia

você bochechas rosadas porque bebeu. semi-cachos semi-desfeitos. camisa um pouco aberta, mangas meio soltas. estacionou onde não devia, correu pro caixa, água geladinha de garrafa, caso urgente. dia não fácil. ou não fácil por demais fácil. têmporas suadas levemente, a vontade de pensar em nada.

nós. duas (quantas?) garrafas de vinho de improviso. um conta do gosto, outro desconta com gosto, e nenhuma (graças!) aulinha sobre cepas. terroir. vodca feito água, menininha com vinho. a conversa, de longe, mais idiota do universo. urgentíssima.

um ponto, dos de vista. mais um, dos de nascença. te chamo pela primeira sílaba. passo a mais.

21.6.10

CHAI

A busca de um papel não tão limpo (ou nada limpo) e o passeio pelos quadradinhos da blusa dele.

Subir naquele carro foi como viajar para perto e parecer tão longe – até esqueço de onde vim.

Me vejo com fones nos ouvidos de ouvir conversa alheia. Na história do anônimo em mesa de café – conheça dez lugares para o primeiro encontro, veja roteiro.

Uma conversa de início de conversa, você sabe: o último namoro, os velhos namoros (caso existam), o bairro de nascença, a casa dos pais, as aflições mais belas de serem ditas.

E as perninhas, que peregrinam pelas linhas da camisa dele, quadradinho por quadradinho, até dizer chega – e chegar nunca chega.

Meio deitar na cama do quarto ainda infantil no sábado à noite – filme na Globo àquela hora – e imaginar o frame-por-frame. É um pouco voltar o calendário. Tão bobo que esqueço, a cada cinco minutos, o que ia escrever – e, olha, minha letras tá até certinha!

De novo aquele gosto: um sem-número de especiarias. Os próximos quadros são do mistério, mas só se anda e tal. E que seja bom, bem bom. E era para ser triste, bem triste. Sabe, mas fica até meio doce. Não tem como.

um sorriso

seu rosto que virava, e o meu que virou em 180º.

eu parecia patinar naquele piso, eu parecia esquecer de mim, eu, hoje, estados acima, sobre, não sei o que você quis me dizer. se é que.

o meu rosto que vira para o ombro esquerdo, os seus olhos que não se fecham. nenhuma palavra é dita. jamais.

as duas felicidades noturnas - todas, todas esfumaçadas. eu sorri de tão feliz, riso de dentro, não consigo lembrar bem. nada.

é ao acordar. de novo. uma fotografia feita de açúcar. se desfaz.

14.6.10

bar do velho amigo

eu mordi o seu escapulário três vezes para saber onde isso ia dar. falei que ia arrebentar o escapulário com os dentes, e deu na gente seguindo o mesmo caminho por horas e horas e horas, quando hora não é tão hora e caminho não é tão caminho. quando pergunta o que estou bebendo, você passa a figurar na lista de gente que admiro, porque é a única pessoa que não faz cara feia depois do primeiro gole. dançamos, você quer saber o nome da música e, então, se cala, você não sabe que eu não gosto que falem tanto em algumas horas, a não ser que eu não faça nada e você apenas fale, mas você nada mais diz, e eu não consigo dançar nada, ouvir nada, cantar nada, porque meu desejo é outro: é morder o escapulário até arrebentar, colocar para derreter na boca feito bala açucarada. eu critico caipirinha de saquê de frutas vermelhas, 'i gotta feeling', seu signo, radiohead, john neschling, eu elogio pedro, glória e percebo que a hora é hora de não estar ali, por mais que hora não seja hora e, em um instante, já estou a bons metros, uma cerveja em garrafa encapada, um senhor simpático que serve fogazzas, me pergunto se aquilo não seria algumas horas antes, me vejo com um escapulário no bolso e subo, a pé, ladeiras escuras, bairro tradicional, antigo, histórico em nome de livro, eu procuro você por entre as casas com paredes que se perdem com o tempo, eu mordo de novo o seu escapulário, bem forte.