30.11.07

go home

havia uma mulher no meio do caminho. comendo uma banana. eu olhei aquela mulher de meia idade, rosto vermelho, cabelo loiro quase tingido. era triste e não tinha esposo, apenas uma banana muito-muito madura, de casca quase preta e creme com fiapos derretendo na boca. (sabor acentuado.)

foi assim a mulher que vi. ela não notou minha presença e continuou comendo sua banana. bem madura, assim como a banana, a mulher.

eu conheci o filho dela também. que seja. enquanto ela comia em seu carro cinza, ele andava de bicicleta e ouvia música. era daqueles caras bonitos e fortes de capa de caderno que escutam sons em grandes fones de ouvido e deixam a cueca aparecer na bermuda.

a mãe não vê o filho. o filho não vê a mãe. e este reles observador, por sua vez, é aquele que tudo vê: desde a banana até a cueca.

agora todos vão para casa. tirar os sapatos, comer do pão, colocar o dedo no interruptor, dar a descarga. todos os dias.

e assim a vida vai: as pessoas - que me disseram serem caixas pretas - se vêem e não se vêem, comem suas bananas, ouvem suas músicas e vão-se embora.

e esse texto, que seria sobre a mulher e sua banana, virou um texto sobre ir para casa e não se ver mais nada. é aí que eu chego e falo: meudeus.

24.11.07

disseram ao som de come together

eu bebi duas cervejas e fiquei sentado, esperando você chegar. talvez pela luz fraca do lugar fosse difícil reconhecer sua forma física, mas, para mim, naquela situação, nada era impossível.

fiquei lá, bebendo as cervejas, vendo as pessoas, ouvindo a música – ora boa, ora ruim – esperando você chegar.

esperar é o que mais faço nestes tempos de obsessão.

16.11.07

cubitellu


é que surgiste e não há modo de enterrar-te ou de cobrir-te com água fria até o fim. não seria capaz disso eu, que contei todas as manchas de tuas costas, eu, que tentei mordiscar teus cílios e arrancá-los com os dentes, eu, que degustei tuas articulações, lavei teus pés, cortei tuas unhas, banhei teus cabelos.


não há modo de descartar-te como uma embalagem plástica, eu, que ainda sinto as costelas quentes mesmo longe de tua presença física neste todo frio. e enquanto atravesso a henrique schaumann, respiro a toxidez, olho para o relógio da rua, dezoito e quarenta e cinco e doze graus, hora de te ver, eu penso que é hora de correr, ainda há luz e podem enxergar meu sorriso de te ver e céu cinza escuro, mas é atravessando a rua, de farol verde, tentando ir à sua casa, eu correndo na rua, que me lembro de que não estás mais aqui, estás aqui, aqui e não em mim, o fio foi cortado e fim. então eu, que sempre quis viver olhando pro mesmo céu, desisto de tudo. paro no meio da faixa, penso em como devo proceder, e os carros passam.

13.11.07

cadê teresa? ou à procura ou lo siento

y disse: aponta pra fé e rema. x disse: isso é uma música. y disse: eu sei. x disse: a escuto todas as manhãs indo pra faculdade. y disse: nada perguntei. x disse: vem pro pau. y foi e, depois de quarenta minutos do pau, descabelou-se, suou e foi até o solo cantando come into my life. adeus, y, arrivederci.

x bebeu mais vódicas e suquinhos prontos:

x: delícia. z: é amigo de maribel? ?: si, si, como no... ?: perdeu, playboy, la garantía soy yo. ?: entonces come into my life.

depois veio cauê e o espírito de deus voltou a se mover sobre... foi aí que por que não eu?.

6.11.07

casamento de espanhol

de repente começou a chover. coloquei os livros sobre a cabeça e desci correndo os degraus – não, não tem problema, eram de pedra áspera, não escorregava. então eu voltava para casa e via toda aquela aguaceira lá fora na forma de gotas. inesperadamente, a água cessou de cair; abri as janelas, e o chão, a grama, os carros e as pessoas estavam todas cintilando. pouco mais a frente, tudo seco – a chuva não fora até lá. deu até vontade de tomar guaraná light. fez cosquinha na garganta. lembrei da vó, mas lá era garrafa de vrdro.