27.12.09

papel' ou do que é preciso

do que preciso agora é um pedaço de papel. de planta que já foi viva e agora é papel, ou de papel que já foi papel e hoje vira papel linha, papel b, papel c, papel d.

se nas esquinas do que se pode chamar de companhia de toda vida encontrei um guarda-chuva, me pergunto por que não um pedaço de papel. não é fácil depender de quem precisa ser carregado a cada três horas!

é por isso que levo assim: aos pouquinhos. era de se economizar.

porque preciso do preciso. senão, dá vontade de pegar o avião - e olha que para acontecer precisa de muito. é que, mesmo a mim, não basta a vida da bolsa térmica com salada de quinua, passas, tomatinhos, pedacinhos de damascos, castanhas e suco de limão.

eu apenas digo tchau (muitas vezes nem isso) porque a vontade agora é de virar do avesso, do avesso de novo e do avesso de novo, mil e uma utilidades.

[banco da prainha, tarde chuvosa, companhia de formigas e notebook, dezembro/2009]

alvy singer

foram três outubros e quase no dia anterior: eu no meio da rua vazia, você em sua antiga casa, eu perto do Mackenzie, meia e bermuda no corpo na cama, filmes - talvez, "Annie Hall" -, e um "oi" no computador que, é, não se lembra muito bem. e tudo começou estranho desde aí: claro, escuro, claro, escuro, com eu que ainda espero, principalmente em outubro, quando tem chuva sim, chuva não e rua vazia e molhada com cheiro de natal. porque desse ano eu esqueci da sexta e não procurei pelas pessoas - e nem canudo colorido teve. nisso, pensei comigo sobre o dia da mão no cabelo e você, ah, que gentileza, que maravilha seria se a vida fosse uma costura de encontros, de sorriso bobo e ruguinhas que fecham os olhos. eu ainda te vejo nesses pontos de ônibus indo sempre nas mesmas manhãs de sábado, mas o trajeto, eu tento mudar.

22.12.09

glacê real

aquela quinta-feira foi um pouco de açúcar, e o sorriso no travesseiro quando não tem mais luz é o toque de felicidade que a vida precisa para não desistir de tudo. é como se, no dia seguinte, tudo dá certo porque, além de lembrar de ontem, o ar está úmido e parece que vai continuar chovendo. e eu consigo trabalhar para que as horas passem logo e eu possa continuar a sorrir.

quando não consigo mais atravessar as noites, penso nas tardes passadas sob a árvore, quando eu nem ligava para aroma de café. ter uma companhia assim me faz esquecer de vida de verdade e só lembrar da lembrança de querer sua mão no cabelo. é melhor querer sem poder do que não querer mais nada.