18.9.09

contar carneirinhos

estava tudo sobre a mesa: as cópias, as folhas em branco, o estojo com canetas e até um gole d'água para as pausas menores. mas não deu. e não foi a primeira vez que não deu, claro - e cada uma é por motivo diferente. mas a água por entre os fios de cabelo a essa hora da noite me dá tanto sono que a vontade é de dormir assim, molhando os fios da fronha, e acordar com previsível resfriado, imprevisível formato sobre a cabeça e a apatia matutina de se pensar se se deve ir à aula, ler o jornal com o café ou trabalhar um pouco, adiantando a noite, que pode ser de serenidade, como a de hoje, primeiro capítulo na televisão, ou agitada por demais, como a de cinco noites para trás, de quando fui reconhecido pela camiseta azul. e eu confesso: sei muito de sua vida. colégio das margens, ano de ingresso na academia, data de nascimento, gostos musicais da adolescência - da atualidade também. e eu rio, porque quando azul era malha listrada, eu nada imaginaria sobre essas músicas de cinco anos antes, época eu nem tinha ipod - e, se você for ver, cada música no itunes leva para um pedaço de tempo e de lugar. se eu escutar, por exemplo, aquela canção da quinta-feira de depois da camiseta azul, no momento da peça-de-roupa-a-qual-não-nomeio-por-não-me-lembrar, digo que busco por um sorriso, apenas. "um sorriso, apenas". nome de obra de ficção que quer dizer "muito mais que isso", afinal, eu sei o dia em que você nasceu e torço para que pise no mesmo chão que eu na mesma noite que eu nos mesmos olhos que eu. isso quer dizer que toque na pele diferente que a minha, uma na outra, e quer dizer que olhe para lugar diferente do meu, um no outro, e que dedos e cabelos e ombros e sofás se harmonizem e que as luzes se apaguem e o chão deslize e tudo se embaralhe e eu me lembre um pouco disso quando me desligar do mundo e ligar a nova luminária de neon, presente de aniversário em setembro, número de meses depois do seu cujo quadrado dá oitenta e um. eu e um.