26.5.09

bonito e distante

ele me disse: vai por Nazaré. e eu não sei se passei um pouco do ponto ou se não cheguei ainda no ponto, mas fui até onde o olhar alcança o máximo: o que parece um mar de luzes, imóveis pelo horário, por baixo de uma espécie de morro, no topo oeste, onde eu estava. então agora o trabalho era descer e descer até se sentir perdido. menos 'vamos nos perder', porque a solidão era maior que as canções, apesar de menos grifada. e a tarefa foi chegar até a artéria e fluir, pontos e pontes mil, até chegar à conclusão de que o sentido estava errado: nunca se sabe se se deve ir para o lado de lá ou o de cá, se o de lá vai para o sul ou norte e vice-versa. por isso, às vezes, é preciso retornar, fazer um rápido passeio, bem o que se chama de 'dar uma passada' - na Vila Guilherme - e ir embora, tal qual na vida, onde se vai para destinos diferentes, se volta e se tem a ideia de que, já que se estava lá, dar uma passada para ver se você está lá, de maneira que você é o outro lá, e você, qualquer um, passa sob pontes e pontes e pontes, vê o rio na madrugada e tantos carros que ainda deveriam estar na garagem, e acha curiosos o fato de que no rádio tocou a mesma música das esperas de dois anos atrás no banco das folhas e das artes, e agora era no banco das noites com as mesmas procuras, e me lembrei da última vez em que estive aqui: foi naquele fim de férias, quando você me contou todos os segredos e eu preferiria saber depois para não acabar assim, de repente, e eu poder dizer 'vamos nos perder', pra ficar com mais graça, mais tempo, mais de surpresa e não ter medo de ir para o sul, norte, virar na ponte, porque é sempre bom descobrir novos trajetos. a gente não tem tanto tempo assim.

texto ruim de telefone de mentira

e ela acha que não vou conseguir dormir: foram 350 ml de muita cafeína. que tipo de viciada em café você é que toma uma latinha de coca light e não consegue dormir? não consigo, não consigo, não consigo, e quero tomar mais dois banhos, lavar os cabelos, lavar o corpo, me secar, colocar o pijama, tirar o pijama e entrar no chuveiro de novo. é que tudo poderia ser como ontem: beber um pouco de coisa doce e ruim e escutar 'mamma mia' e cantar 'mamma mia'. e confessou/; tenho dificuldade com coisa nova, demoro um pouco pra me adaptar, mas depois faço direitinho. o problema é que nem sempre dá pra ter paciência igual a minha, de deixar a vida ir. eu sei. deve ser por isso que eu teimo em não dormir à noite. no fundo, é mais por querer, pra tentar ter um pouco menos de paciência. mas chega, você precisa dormir.

25.5.09

fim de era

hoje, depois de muitos anos, não quero ser mais encanador. pior ainda, desencanador.

encana, desencana.

hoje, depois de muito pensar, quero ser eletricista. pode ser menos sexy, mas faz ligações e dá energia.

nada de encana-dor. é eletricista.

...no fundo, fundo, fundo, eu queria ser um espana-dor.mesmo que um espana-dor ama-dor: é inevitável.

9.5.09

aspas

tão sem força que qualquer declaração rara me faz tevantar e ter vontade de fazer um chá.
e, do chá, sentar e maquinar em cima da fala: abre aspas - declaração - fecha aspas. deixa eu fazer um google doc, salvar no word, anotar de caneta e lápis no bloco de papel. não esquecer nunca: declaração-verdade.

tão incrédulo que acharia que a declaração rara é falsa - muito mais falsa que rara.
e, mais que rara ou falsa, suja mais tendenciosa: declaro algo e, em troca, algo. (mas, claro, pode ser bom para ambas as partes.)
então vamos publicar!
não, não; não pode.
coisa rara, boa e verdadeira, por que não?
quero pra mim.

deleto google doc, word, queimo bloco de papel, nem na pele tatuo (pele pode ser pública).
pergunto ao doutor, diretor da faculdade, chefe de departamento, maior nome na área se dá pra tatuar no peito, dentro. mas a fonte não retornou a ligação até o fechamento da edição.

3.5.09

azul a verde

e quem disse que esse tipo de amor é coisa de poética de metrópole? coisa que se acha em manuscrito no bolso. se é amor, se é poética, se é manuscrito, falem o que quiser.

só precisava registar que senti. ponto. senti, ponto e talvez uma interrogação, porque não sei bem o sentido; só que queria sentir mais.