30.1.10

fase amarela

ela ensinou tudo.

- realismo poético vem antes da nouvelle vague.

ele contou: quando ela disse 'nouvelle vague', deu vontade de escutar 'garota de ipanema' na versão los hermanos.

- mas eu passei no cpe.

ela gostou porque ele passava os intervalos com joguinhos de celular. acharia chatíssimo alguém lendo o caderno 2 ou a ilustrada como ela. ou com gole de café como ela. ou um chá gelado. como ela. o máximo foi uma barrinha de chocolate - o que ela considerou o máximo.

a garota era adepta de cabelo preso mais tênis mais vestido. o preferido com losângos. o moço ia de bermuda e all star azul. eleita a discrição. uma mochila para cada.

- você nunca usa o mesmo vestido?

- como você consegue deixar a barba sempre desse tamanho?

na primeira vez em que foram ao cinema, ele achou esquisito ela rir nas partes mais estranhas.

na hora de jantar, ele lutava para não ficar tão calado, e ela tentava se segurar para não falar tanto. eram os 'jeitinhos'.

- quero dar aula.

algo informal. sanduíche enrolado, limonada com água de laranjeira, hortelã, cervejinha, beijo.

- rohmer é o meu eleito.

27.1.10

22h29

Foi um olhar. Ou foi um tecido, não sei bem. Fato é que você continuou em mim depois e depois.

Da primeira vez, foi um fechar de portão e um olhar tardio para trás como que um pedido formal de perdão. Mais tarde, uma espera e um sorriso. Foi a primeira vez que te vi sorrir. De frente.

A primeira vez que te vi sorrir de lado foi com a piadinha clássica. Não minha, é claro. Os verbos não têm lugar em nossa comunicação.

Eu reparo em cada ponto. Hoje você veio pela primeira vez com esse tênis. Gosto mais quando você aparece com o All Star bem limpinho.

Teve a vez em que eu quis ir junto com você. Ou quase junto. Mas não deu muito certo. Nosso nós se restringe entre a Pacaembu e a Angélica. Eu só não sei se a alameda é meio ou fronteira. Você gosta de sumir no escuro. Eu gosto de andar no escuro. Eu, eu também.

E escreveria sobre pequenos pães de queijo e capuccino, ar condicionado, barra da calça molhada em poça de chuva, cabelo de garoa. Eu não esqueceria de “A Doce Vida” de bobeira, quase 3 horas e filme e multa a pagar.

Mas eu sei muito pouco e penso em muito. Pensar e desistir. Melhor como está, até o início de mês, fim da temporada. Sem número de telefone, a receita é acreditar no transporte público e bares mais badalados.

Mas você é diferente.

Esse texto continua.

21.1.10

sobre a chuva

sobre a chuva, um céu de cor só: claro e escuro. sob a chuva, dois que se gostam ou que gostam da brincadeira. e o dia começa agitado: o rio corre e quase transborda, o repórter não para na ponte e as seis horas de chuva dão trégua.

eu acordei no meio delas, entre a noite e amanhã. não consegui dormir mais.

hoje, dois jornais para ler e, no depois, um bocado de assuntos para aprender. espero te ver por aí, em alguma esquina, de susto, sem guarda-chuva nem nada.

19.1.10

revista da folha

a água e o banheiro são os códigos para o ingresso. mas você não precisa mais disso. é por isso que não é de se estranhar tênis e meias no canto, pés no sofá, posições de conforto, frases desconexas. é só um macarrãozinho só com uma manteguinha e um queijinho e pronto, pode ficar aí no sofá, te levo. mas, como se é de código, a água é o momento mais demorado da cozinha - uma deixa para os dois. sobre tudo já se foi falado nesta noite - e há muito mais para isso.

de volta a cozinha, vamos ao capricho. escorre a água quente - ajuda a desengordurar a pia -, coloca na travessa, manteiga e queijo ralado na hora, cadê o ralador, meu deus, ele não vai aguentar de sono lá na sala, e rala o queijo, cheiro bom e não se precisa de mais nada.

na volta da sala, ele dorme no sofá e não acorda nem com a força de manteiga que se junta a queijo de ralo na hora. comer um só, então, e sem vinho. a noite vai ser curta. mas não se aguenta também e desfalece no sofá ao lado. novos baianos termina.

desculpa, desculpa, desculpa, desculpa. é assim o acordar no dia seguinte. e, que bom, ainda não é hora do almoço. vamos ao mercado, eu te faço alguma coisa, não queria ter dormido ontem. quando acordei no meio da noite, pra ir ao banheiro, e vi você no sofá, prato no chão, bateu aquela culpa. mas você não ia almoçar com sua vó? deixa pra lá minha vó, domingo que vem a gente almoça.

domingo aconteceu, mas sem nenhuma memória de guardar assim, de repente. fica a manteiga, o queijo e as desculpas. tá bom assim.

16.1.10

a 92

um automóvel, num dia como aquele, é tudo menos um automóvel. os ônibus continuam a passar com roupas comuns e desgastadas; àquela altura, pelo menos, a marginal é mais vazia.

e sempre tem um que troca as datas: bandas dos 60, coreografia dos 50; lady gaga, passos de bee gees; axé music temperada com corpos de underground.

também existem as bebidas funcionais. uma vodca boa, mas aguada de gelo e escondida em energético. o kiwi é fruta, mas sofre na coqueteleira. os passos com garrafas. tudo com uma intencionalidade. diferente de sentar - soft opening - e pagar.

foi nesse dia em que ela se apaixonou pela primeira vez por muletas. por mais que embriagadas e cobertas de gaze elas estivessem. quero andar com você num dia(,) claro, ela dizia a elas. vem comigo.

depois sempre tem um grandão bobão, o que era o sonho dela outra. e que cheiro bom. não que ele pudesse pagar uma bebida, mas era tão bobo, e ela tão boba que a mistura deu certo. mixologia.

e vem depois me perguntar - ou afirmar - se me conhecia. sim, eu conheço, mas conheço tanta coisa que desconheço tanto que vou te falar. é quando eu procuro o espaço para caminhar e cantarolo a canção dos 60 que o colega faz passos dos 50. depois disso, tudo dá certo.

9.1.10

véspera de véspera

lá do alto,

sua obsessão: olhar para o meu rosto. quase um roteiro não verbal: vem para baixo, sobe, mãos em minhas bochechas e um olhar que vem lá de cima - quantos centímetros sobre mim? depois, atrás, na frente, e mais meu rosto. eu, com milhão de perguntas abaixo, desisto.

tenho apreço por toda gentileza, que fique sabido.