de quando a coxa treme e eu penso que é o celular: os músculos feito areia movediça e a cabeça que não funciona muito bem. isso quando lembro que a gente podia ter se encontrado em qualquer corredor da vida: na fila do café, na poltrona do cinema, na sala de banda larga, na festa diabólica, no ônibus para casa, na piscina suspeita. e os astros conspiram para que os indivíduos se encontrem no horário e no dia certos. deve ser por isso que me atraso tanto, tanto para que o dia chegue e seja dito que sou muito mais que se esperava, e então eu me sinta bem posto no mundo. no dia seguinte, o fim, ou quase o fim; e eu, antes tão seguro de mim, desmorono, corro atrás, fico obcecado, passo horas na mesma tecla. e não adianta. é sempre a mesma coisa. é nisso que me dá vontade de ir pro quarto, de ler um bocado de derrida. e eu nem fico no meu quarto, e eu nem leio derrida. eu só espero que chova. a noite toda. gotas grossas e barulhentas, a la éramos seis, até chegar a hora de beber café. com ou sem derrida.
27.12.07
25.12.07
largo da batata
1. os passos de quatro anos atrás para trás e o déjà vu. que fossem passos não tidos antes e a sensação de feel like home. aquela região do cérebro, bem no topo da cabeça, se movimentando; quase uma embrigaguês jazzística.
2. dois pares de olhos puxados. o da janela: do cachecol e do casaco verde de capuz. ao lado, do óculos sem aro, cabelo amassado e malha que pediu mãe. era um exemplar de le monde diplomatique contra uma passada de olhos pelos exercícios da matemática.
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Saulo
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19:35
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14.12.07
sun-origin
a casa na zona leste. a casa na zona sul. a casa na zona sudeste, isso sim, a casa e suas pernas finas e longas. eu admiro suas pernas na casa da zona sudeste enquanto tomo sopa japonesa. minhas mãos na cerâmica quente, minha garganta quente e a luz vermelha dos corredores por onde passo e olho pela porta de seu quarto na zona sudeste suas pernas finas e longas na sopa japonesa.
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Saulo
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11:45
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12.12.07
eu já falei pra ela: deleta do orkut, bloqueia no msn. mas acho que não tem jeito, de qualquer maneira a imagem dele volta. ela me falou que ele tem uma cara de criança boba e gosta de coca trigelada com pizza, só que se ela deletar toda criança boba ou coca e pizza da sua vida, não dará muito certo, então acho que deletar do orkut ou do msn também não seria uma grande idéia.
mas é que ele vai embora, vai estudar um tempo no chile, tão perto, tão longe, e ela teve a idéia de, do nada, aparecer no chile como quem não quer nada e dizer e aí, como vai a sua pessoa, tudo bem?, e ele iria tratá-la tão bem como nunca tratou ninguém, porque os dois estariam em terras estrangeiras e um estar ao lado do outro seria sentir-se em casa de novo, então um se aconchegaria no outro, um se afeiçoaria pelo outro e fim da história. mas ela achou que era loucura, da mesma forma que ela achava loucura quando passava em frente à faculdade dele todas as quartas e terças para vê-lo sair (mesmo nunca sabendo o horário da saída), e talvez buzinar e dizer quer uma carona para casa, não tem problema se você na leste e eu na oeste, não é tão longe assim, sabe, e, de qualquer forma, eu estaria indo pra lá mesmo!
loucura foi também quando se enfeitou e se perfumou para a festa de sextas-feiras passadas, e quando começou a tocar strokes (ela sabia que ele amava strokes e pediu, assim, do nada, para o dj tocar), ela pegou seu copo de bebida doce e canudos coloridos e foi para a pista dançar, cambaleava entre os corpos, onde estaria ele?, ela procurava por todas as cabeças o seu par que ela sabia que viria diretamente do tatuapé à festa, mas ele não fora na festa, e ela não parava sua busca por ele, à uma, às duas, três, quatro, cinco da manhã, quando a música era ruim e todos já tinham ido para suas camas na leste, oeste, norte, sul, seu cabelo fedia e seu salto apertava. ela, então, meio tonta, tirou os sapatos, caminhou três quadras ao carro, dirigiu pela lapa, não sabia onde estava, queria ir ao tatuapé, bater em todas as portas e falar olá, ele mora aqui?, tocou strokes na festa hoje e ele não estava, como assim?, esperei a noite toda.
mas ontem ela ligou e disse que agora é zona sul. agora é maxilar proeminente. agora é belle & sebastian. ele é o novo te quiero, bandido.
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Saulo
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03:00
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4.12.07
respirar
por que existe é o que pergunto. em dezembros de suores e calores de insetos eu pergunto por que existe. quase oito e o céu ainda cinza eu pergunto por que existe. dirijo pela Panamericana tentando ir para casa e pergunto por que existe.
perguntar é o que mais faço em tempos de vida provisória. maneira de viver conforme corre feito rio interno a obsessão, conforme percorro todos os caminhos que acho terem sido por você traçados. e tudo isto na medida em que você é a medida de todas as coisas, em que todos os caminhos levam a você e em que nada do que é você me é alheio.
eu volto e lembro de que viver é respirar. e depende.
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Saulo
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20:06
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