20.10.08

uma vez ao ano, as florezinhas se reúnem em assembléia para discutir em que dia de outubro começam a cair
há as amarelas e as lilases
as primeiras são as mais numerosas, há muitas e muitas
hoje, no quase chegar, o vento soprou de maneira contundente e as flores todas voaram; nem adiantou a reunião
ou, talvez, as pequenas e o vento se reúnem conjuntamente
reunir conjuntamente, se é que isso faz sentido, ou se é que isso faz dois sentidos, mesmo sendo o mesmo

*

eu vou levando
em todos outubros o amarelo e o lilás vão continuar voando
meu coração, também, vai continuar batendo, batendo
pelo menos eu espero, por bons e grandes anos
por mais que esses anos possam ser tristes, de ficar gota no canto do olho
ou felizes, de pular e suar e grudar confete na testa
por mais que ser feliz ou ser triste possa ter a ver com as flores
ou ser feliz e triste possa a ter a ver, ou haver, de ter, com alguém, com outro alguém, com o outro, o de fora, ou o de fora que vira de dentro
eu queria que o de dentro saísse para fora, assim, com dois sentidos sendo o mesmo, sair e para fora
e queria que o de fora viesse para dentro, fora e dentro, assim, um contra o outro
é que é triste, muito triste, quando as coisas dão errado
a agüinha fica lá no canto

*

é egoísmo, eu acho
sim, eu acho, ou apenas acho, porque o , acho é, assim, mais inseguro
porque tudo é meio, assim, inseguro
como o assim
ocupa espaço
e não tem resposta

*

manda um beijo pra mãe
e pro pai, se tiver
e me traz a nova edição
se eu conseguir ler

27.9.08

se na cidade chovia, isso não era para ser sabido, porque eu não estava na Frei Caneca, eu estava na Cidade Líder. e me desculpe por ser específico falando o nome da rua do bairro do centro espandido e não falar a rua da zona leste; eu nem sei se era uma rua onde eu estava. mas o todo era escuro, e quando voltei para o centro, chovia, ventava e eu me sentia úmido, me perguntava por que chovia tanto. às vezes a gente vai para as outras zonas e o mundo é outro, toca Wilco, toca Scissor Sisters, e quando a gente vai embora já tá claro. nem parece que foi ontem.

24.9.08

manhã de quarta

acordei quando o relógio disse as horas
fiz as contas na cama: quatro mais cedo. levantei o tronco, estiquei as pernas

me perguntei quando

28.8.08

aqui do meu ramal posso tentar te ver passar lá em baixo, mas nem sempre eu posso. eles querem que eu fique sentado em frente ao cristal líquido, exercitando dedos, aleijando pulsos, grudando post-its.

há tantas cores mais bonitas de post-it do que amarelo aguado. esse aqui é tão 94...

tento te ver pelos vidros. as janelas são grandes e, quando abrem, a visão melhora bem, e eu me sinto meio poderoso de poder ver daqui, porque aí de baixo me dá vergonha: ando cabisbaixo, olho para o chão, não percebo que tudo aí é tão grande.

falo palavras que não falaria pra ninguém aqui de cima, e tenho menos vergonha, porque, em baixo, eu nem consigo falar, mesmo falando por dentro, porque o medo que você passe é maior.

agora eu falo. e me dói cortar em parágrafos ou estrofes. é como me rasgar e me virar do avesso.

às coisas novas

lembro de que quando conheci Dante as coisas não eram assim. e nem o modo de eu chegar, de sentar e ligar o aparelho era o mesmo. tudo que eu lia também era diferente. e isso não faz tanta falta, porque não dei um "adeus". só deixei ir.

por isso que todos os rostos pelos quais eu orava todas as noites não me faltam mais.

às coisas novas.