16.11.08

Sobre passos

Quantos foram? Não sei medir em passos – nem por estimativa. Posso dizer que foram, assim, uns 15 quarteirões de pensar – daria umas duas ou três páginas, que já foram para o espaço, e muita, mas muita bateria de música e um tempo para o cinema – e, confesso, muitos para o cochilo. Também teve o tempo para o alimento e para o banheiro, porque sou vivo, mas só.
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Como viver em dez passos. Como fazer as coisas corretamente para não tropeçar no final.
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Vou caminhar mais um pouco. Cansei desse lugar.

7.11.08

o menino cansou de esperar. eu já tinha o visto antes.

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aquela vez, nesse mesmo lugar, dei oi à menina. era verão de ir ao cinema de ônibus, e o cabelo dela estava em desordem. você está diferente, eu disse. deve ter sido a Bahia, eu não disse. mas hoje entendi; hoje, primavera.

olhei no espelho do shopping, e meu cabelo lembrava ela. é o tanto andar, eu não disse, mas pensei, enquanto tentava, em vão, o ajuste. é o subir e descer as ruas, dobrar as esquinas e parar nos semáforos. descer aquela rua, nome feminino, pro lado de lá, me lembra os Dandy Warhols, eu diria, como se ela não estivesse tão longe.
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voltando para casa ontem me identifiquei violentamente com Marisa. é a esperança. o andar é por isso.
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hoje preciso de outra coisa, não de um monte de coisa.

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funciona como se as palavas ficassem lá dentro, soltas e dispersas
de repente, algumas voltam à garganta, dói dentro
engolidas de novo, ficam por um bom tempo
então você tenta tirar tudo de vez
não dá
então você escreve


o alívo, espera ele, é para sempre
por isso cliquei em 'enviar para sempre'
mesmo com todos os riscos para a humanidade vindoura

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estou me despedindo. esse modelo, talvez, tenha sido esgotado. mas vou espremer até a última gota e me vou, porque, pela primeira vez, perdi o leitor-modelo.

3.11.08

fim de dez

para eles deve ser fácil, eu não disse. mas só de estar perto da clareira, com pouco verde, tudo branco, eu já me sinto bem. e não foi a primeira vez. lembra aquele tempo, a tantos quilômetros da cidade? eu no telefone tentando falar com o santo que nunca atendia, e você passando para espiar, feito criança. é que tudo que você faz vai ser feito criança, vide seu rosto de anos antes. mas eu devia ter me aproveitado da fragilidade de subir a escada com canas e limões, porque, quando peguei no seu braço, você disse que estaria mais tarde na escola, mas mais tarde seria o não-dia; foi quando eu tirei seu anel e levantei sua franja. como muda.

28.10.08

m. poole

num interim, depois de certas décadas, me virei do avesso para poder compartilhar e não precisar escrever. o observador perguntou por que não havia mais letras minhas por aí, ao que respondi que não era preciso, considerando a conjuntura de sorriso. quando se tem quem olhe, não é necessário procurar.


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aquela tarde de domingo foi a melhor da minha vida. de criança, era pão francês fresquinho, os homens da tevê, cheiro de café e um dos dois jornais, dependendo a quem a visita fosse ou do humor da mãe.

naquela, dentro do interim do avesso, era só eu, o observador e as ruas vazias. é claro que a gente não aproveitou bem, mas coisas dessa natureza são apenas descobertas quando já é tarde da noite. só digo que os passos e os passos e as palavras que viravam vapor me faziam feliz. e como feliz.

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horas antes do episódio de encerramento da temporada, aquele pelo qual todas as pessoas sentariam na sala para assistir, enquanto eu no computador e o outro nas ruas cheias, mandei aquela letra que ninguém sabia que eu gostava, que falava sobre paraíso, truques, promessa de fuga, como um sonho. fuga nas ruas vazias de domingo, como um sonho. mas apaguei.