quando ouvi os sininhos, pensei na bailarina dançando, rodopiando por entre os corpos espaçados. achei estranho ouvir sininhos (mesmo que melodia concebida eletronicamente) depois de tudo continuar na mesma. o que é pior: tudo continuar na mesma explicitamente. é quando vem uma notícia verbal - escrita, falada ou sei lá - que constata: tudo está na mesma, não há novidade no caso, trate de esquecer de tudo e iniciar um novo estudo. minha nova hipótese, portanto, diz respeito às xícaras de porcelana branca. e eu, ó-ceus, que falei que a cerâmica era porcelana e vice-versa?! mas que coisa besta, meu deus! e, sim, ele me disse que eu reparo nos detalhes mais sem sentido, mas eu sinto nos detalhes. só não respondi isso a ele. eu reparei, por exemplo, que um sorriso na noite de sábado se estirou por todos os cômodos: a escada; a sala; o espelho do banheiro. por fim, apenas atravessei e reparei nas meias. quem repara em meias, meu deus? uma vez eu sonhei. vanguarda russa, eu dizendo: mas que moldura bonita, meu deus. acorda. e mais notícias recebo de que tudo continua na mesma, e eu respondo - novamente a mim mesmo - que pelo menos consegui verter três lágrimas na sala escura na noite de domingo. para mim mesmo, é claro.
9.11.09
7.10.09
andaime
porque esta tarde, no trajeto, eu vi os limpadores de vidraça. lembrei daquele fim de semana do começo. se eu esperar até o final do ano, vai ser o tempo de morte do cabra marcado. e, minha casa, aquele dia ficou marcado! foram 20 minutos e expectativas depois, e depois, e depois, até o final com direito a sorriso adolescente. depois tchau, muito tchau, e ainda.
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Saulo
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18:50
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18.9.09
contar carneirinhos
estava tudo sobre a mesa: as cópias, as folhas em branco, o estojo com canetas e até um gole d'água para as pausas menores. mas não deu. e não foi a primeira vez que não deu, claro - e cada uma é por motivo diferente. mas a água por entre os fios de cabelo a essa hora da noite me dá tanto sono que a vontade é de dormir assim, molhando os fios da fronha, e acordar com previsível resfriado, imprevisível formato sobre a cabeça e a apatia matutina de se pensar se se deve ir à aula, ler o jornal com o café ou trabalhar um pouco, adiantando a noite, que pode ser de serenidade, como a de hoje, primeiro capítulo na televisão, ou agitada por demais, como a de cinco noites para trás, de quando fui reconhecido pela camiseta azul. e eu confesso: sei muito de sua vida. colégio das margens, ano de ingresso na academia, data de nascimento, gostos musicais da adolescência - da atualidade também. e eu rio, porque quando azul era malha listrada, eu nada imaginaria sobre essas músicas de cinco anos antes, época eu nem tinha ipod - e, se você for ver, cada música no itunes leva para um pedaço de tempo e de lugar. se eu escutar, por exemplo, aquela canção da quinta-feira de depois da camiseta azul, no momento da peça-de-roupa-a-qual-não-nomeio-por-não-me-lembrar, digo que busco por um sorriso, apenas. "um sorriso, apenas". nome de obra de ficção que quer dizer "muito mais que isso", afinal, eu sei o dia em que você nasceu e torço para que pise no mesmo chão que eu na mesma noite que eu nos mesmos olhos que eu. isso quer dizer que toque na pele diferente que a minha, uma na outra, e quer dizer que olhe para lugar diferente do meu, um no outro, e que dedos e cabelos e ombros e sofás se harmonizem e que as luzes se apaguem e o chão deslize e tudo se embaralhe e eu me lembre um pouco disso quando me desligar do mundo e ligar a nova luminária de neon, presente de aniversário em setembro, número de meses depois do seu cujo quadrado dá oitenta e um. eu e um.
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Saulo
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02:19
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20.8.09
pavilion
essa música é de molhar o olho, eu recomendaria. ouvi o carnaval todo, junto com sopa de legumes, crouton, abajur, novela das sete, notebook novo e o pensar em um só.
hoje, deu tanta vontade da música que esqueci de esquecer de olhar a foto perversa. quase começo dança por entre máquinas no instante em que os olhos cederam à estiagem.
estendo a mão para o ar na marginal pinheiros, a pé. saudações.
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Saulo
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01:06
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4.8.09
desde 2000
ainda há pouco a cheirei, e não é mais como antes, quando me apaixonei. ela já não tem o aroma de nove anos atrás, quando caí em amores, mas eu ainda gosto dela, e nem sei se o que me fez me apaixonar foi o cheiro dela ou ela. naquele tempo, não existia John Pizzarelli, Márcia ou Adriana, pelo menos para mim. e, para o mundo, no qual eu estou em, não havia bar Tubaína. existia, pelo menos, o restaurante Halin e a sorveteria Alaska, da vovó. e, claro, o chá de capim santo desidratado, em saquinho - e não deixa muito tempo na água para não amargar. já existia o aquecedor de água para chás em redações de revistas, mas não tão modernosaos como o visto nestes dias, e a saudade ou a vontade. e é de comer MM's de amendoim vendo filme B, filme A (mas não para mim) na sala escura, de não dar para escolher a cor do confeito, igual naquele filme de oito anos em que o doutor só comia os marrons porque não tinham corante - ah, eu duvido que não há corante marrom lá. e todos têm o mesmo gosto, a não ser um ou outro amendoim já ido. e o horário não era dos mais tardios, depois das 23h30 não tinha ônibus, igual àquela vez em que eu voltei de táxi após contemplar os prédios chiques e feios, mas bonitos para o momento. e eu sonhei no escuro do cinema na mão na mão no joelho no joelho, e qual lado seria melhor, esquerdo ou direito?, meu rosto para a esquerda, acho, e minha mão nos cabelos, mas sem olhar para ver se você está rindo na mesma hora que eu, porque, deuses, é tão clichê! mas eu olho e eu descubro que não sou o único que corre do clichê, mas, deuses, clichê é tão gostoso, confortável, de se sentir em casa. quando o filme era realmente A, começou com trufa, porque eu vi o casal da frente comendo, e logo depois procurei nas bancas de jornal, avenida Paulista, cursinho no dia seguinte, mas os confeitos se tornaram o bolo alemão, mas que bolo caro!, massa firme, frutas e frutos dentro, tão bom, enfiado no saco e comido arrancando pedaços no escuro. hoje sou adepto ao expresso e à água nas salas, amargo e insosso. reflexos? tenho saudade do cheiro de baunilha dela, de nove anos atrás, o cheiro era bom, ficava na mala, no quarto, e agora só no nada.
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Saulo
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02:29
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